- Se o que penso ser a verdade, se misturou nas páginas de um, ou outro livro que escrevi, quem o ler deverá pensar que sou eu.
- E não és? Penso que sim, que deves ser tu entre outras personagens que inventas.
- Quisera eu ser aquela verdade toda e que conseguissem entrar em mim. Veriam que há mais, muito mais do que se consegue ser na vida real - o lugar onde as palavras se encolhem e os gestos se recolhem com medo de serem levados para um cativeiro. Sabes, aí deveria ser o lugar de todas as palavras que têm medo de juízos de valor e eu não estaria sujeita a esses juízos sem nenhuma graça. Façam todos os juízos que quiserem daquela verdade, mas a mim, ninguém me conhece, senão tu.
- Será isso também verdade? Prefiro ficar a observar-te de longe. Assim consigo ver-te no meio das tulipas brancas. Vale mais do que qualquer festa de doces, onde a mentira se reveste de caramelo liquido a derreter-se-lhes nas mãos, e a verdade um favo agreste, onde nem as abelhas fabricam o mel. Lembro-me de algumas festas em que se viam a saltitar por entre taças de vinho tinto, os lábios roxos.
- A liberdade já não é o que era. Agora todos querem ser livres e inventam palavras novas para manipular os que ainda precisam dela. Depois…depois não passam de palavras, porque em consciência sabem que há ainda muitas correntes no corpo todo, mas preferem ignorar a consciência e enterra-la também no cativeiro, onde outras se encontram já prontas para fazer juízos de valor.
- Será então aí, o local onde acontece o dia do juízo final?
- Não sei. Só sei que estou sujeita a tantos juízos de valor que mais vale esquecer quem sou e passar a ser o que escrevo, mesmo que isso seja uma falsa performance das várias personagens que invento.
Epifania & Ainafipe – Abril 2013
Resulto de um modo de dizer as coisas, simples e belas, e tu és o meu guia, o meu assunto do dia, para me dizeres também, de quando tudo era branco nos meus olhos…
Epifania & Ainafipe