o mundo dos significados alinhados e cruzados
é um cigarro mal batido de trago amargo.
o encanto da poesia não o encontro nos prontuários,
nem sequer na melodia que se gera, propaga e repete
na velha caixa de música onde é sempre primavera.
como um quarto sem janelas
ou uma noite desprovida de luar
assaltada de rompante por um sonho transatlântico,
o meu nome diz tão pouco a meu respeito.
a pátria das palavras não é aquela a que pertenço
e quando me olho no espelho,
essa mescla de oráculo e poço,
penso que os deuses se enganaram
se de mim era esperada uma melodia harmoniosa
que ecoasse em flautas e encantasse serpentes.
eu não quero o sublime,
eu não quero o obsceno,
eu não quero o graal perdido,
pois despir-me de mim próprio é a melhor metáfora que consigo.
se eu fosse coisa de ler, seria uma sagrada escritura…
e rogo-te para que não me interpretes de forma literal!
se eu fosse coisa de ser, não seria deus nem criatura,
seria o que sou:
uma praia de inverno que guarda na memória um desembarque,
sem glória nem arte,
de um barco que atracou ao contrário num jeito ultramoderno.