Poemas : 

MARCAS

 
Marcas ficam, elas ficam sim, em lugares incertos
Num lençol macio, elas ficam estampadas com a força
Da luta corporal da última noite de amor tudo registrado
Ficam as marcas no último badalar do sino na tarde fúnebre

Ficam nos momentos mudados, nos sorrisos de meninos
Ficam nas calças dos jovens apaixonados numa noite de luar
Nas pedras frias que aquecem presos condenados e loucos
Que levam na mente as marcas de amores livres e sadios

Ficam na pele enrugada de um rosto cansado queimado de sol
Ou numa montanha rasgada ao meio de vales profundos
Em vozes roucas e fracas gravadas por tantas loucas idades
Ficam na lâmina da faca cega que mata paixões afiadas

Ficam nas curvas covardes feitas pelo homem de bom coração
Que num cálculo sem fórmulas definiu a reta dentro da curva
E sentenciou em morte a vida de muitas pessoas inocentes
Ficam nos cemitérios espalhados como vasos de flores mortas

Ficam na certidão que registra o primeiro filho dos dez que também morreram
No peito murcho e caído que um dia alimentou o filho que sumiu
Na mão calejada que carregou a aliança que o padre um dia benzeu
Padres e alianças unem os amores de deuses e seres apaixonados se separam

As marcas ficam nas pedras do homem que com elas trabalha e dorme
No berço da criança amada que vem mostrar com olhos novos a velha estrada
Marcas gravadas nos filhos dos filhos de outros filhos com o mesmo sangue
Imagens loucas penduradas nas paredes velhas de um bairro também velho



José Veríssimo

 
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veríssimo
 
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