Memórias de Uma Insana IV – Tentativa de Homicídio by Betha Mendonça
Não tenho ideia de quanto tempo passei na ala psiquiátrica quatro. Lembro que vivia entre estado de torpor, as boas alucinações visuais dos remédios e as sessões diárias com o doutor; nas quais omitia fatos e tentava parecer o mais lúcida que minha mente dissimulada podia.
Quando estava sozinha, às vezes mordia com força um lábio até sentir o prazer do gosto do sangue na língua. Então sonhava com o dia que sairia dali para outra ala, onde eu pudesse ouvir mais que as vozes cansativas do corpo de enfermagem, o doutor e as minhas vozes interiores.
Tudo aparentava melhora. Mas, tomei implicância por uma enfermeira. Ela sabia quem eu era. Que a docilidade e colaboração que eu demonstrava com o prosseguir do tratamento eram falsas e falou-me numa das vezes em que estivemos a sós.
Tentei me controlar. Uma força me impelia a dar-lhe uma lição por ousar esfregar a verdade na minha cara. Tem coisas que a gente sabe, pode dizer para gente mesmo e não dá a ninguém o direito de nos mostrar claramente.
Uma colega da moça abriu um pouco a guarda e eu consegui ficar com a colher de plástico de uma das refeições. Nada que pudesse ferir a mim ou a outra pessoa, elas deixavam comigo. Sempre duas pessoas me vigiavam a alimentação. Depois todo material usado era levado embora. E eu conseguira uma colher de plástico!...
Por mais de uma semana olhava para ela como um valioso troféu, enquanto alimentava cada momento mais raiva da agora minha inimiga mortal: a enfermeira. Horas a fio eu avaliava os modos de vingar-me dela com aquela arma.
O momento chegou. Enquanto ela me aplicava na veia uma medicação sob a supervisão da Enfermeira Chefa, a segunda foi chamada com urgência pelo alto-falante do hospital e saiu às pressas do quarto. Com força hercúlea quebrei a colher deixando só o cabo, pulei sobre ela e soquei-lhe a face até sangrar seu nariz. Aproveitei que estava tonta e fui enfiando o cabo da colher no corpo, ferindo a pele em vários lugares. Quando peguei o aparelho de injeção e ia furar seus olhos fui contida pela voz do doutor que gritava: - Pare!
O doutor não pareceu surpreso com a cena que presenciara. Creio que apesar da dissimulação, eu não conseguia esconder dele o ranço da loucura apegado ao meu corpo e mente.
Re: Memórias de Uma Insana IV – Tentativa de Homicídio
queres saber? está sendo uma delícia relembrar. ficou até mais gostoso retroagir, vir ler os capítulos anteriores. ué! que fique cada doido com suas manias... rs (execelente. não desvias nem um tiquinho do tema e é uma escrita muito bem pontuada. parabéns mana!) bj mana, meu abraço caRIOca.