Parece até que eu ainda sinto
O toque dos dedos, das unhas
Roçando as costas, testemunhas
Do momento muito mais que lindo.
Minto. Não parece. Sinto a mão,
A presença, a saliva, os perfumes
O brilho dos olhos, dois vaga-lumes,
Os faróis que indicavam a direção.
Os cabelos eram a embarcação
As cordas que salvaram o náufrago
Numa noite ausente de constelação
Entregue num mar mui bravio e vago.
Os pêlos das pernas, as penugens
O batom, os beijos doces, os toques
Dos sexos se tocando, dos choques
Advindos do roçar das duas nuvens...
Parece que ainda refaço o toucado
Quando deslizavam os finos fios
Pelas falanges dos meus dedos, os rios
De ouro num jardim mágico e encantado.
Ora, ora... Tudo que aquenta se arrefece
Tudo se acaba, assim diz a sábia natureza
Até uma estrela de primeira grandeza
Por isso hoje tudo assim: Apenas parece.
Gyl Ferrys