A atualidade Teórica de Nobert Elias para as Ciências Sociais
A obra de Elias, “O Processo Civilizador”, deve ser contextualizado dentro do período em que foi desenvolvida e as características entendidas por ele como processos civilizatórios. Seu estudo aprofunda-se na evolução dos modos e costumes do oeste Europeu desde a Idade Média, referindo-se, sobretudo também às questões da formação do que se convencionou chamar-se Estado.
O ponto de vista de Elias provoca um novo paradigma para a sociologia, uma vez que se propõe a revelar a fragilidade do processo de formação da civilização, apontando, inclusive, indícios contemporâneos de uma “descivilização”.
Sua obra apresenta um conceito de análise social “sui generis”, renegando dilemas como a “aparente” dissociação entre ação e estrutura e indivíduo e sociedade e não sinaliza sugestões de solução para tais conflitos.
Elias, nesta obra, entrecruza suas origens filosóficas e sociológicas, mas também, e sobretudo os estudos psiquiátricos e psicanalíticos de Freud. O autor nega-se com base em suas conclusões a ir pelo fácil caminho da dicotomia tão presente em outros autores, destruindo essas simplificações com uma visão sociológica ampla e mutante.
É fato que, fugindo do pensamento extático, é a esse pensamento que ele retorna para questiona-lo, sinalizando alternativas mais abrangentes e inclusivas. O grande problema é que sua metodologia nos convida a pensar e repensar nosso processo pessoal de inclusão no contexto social é doloroso, crítico e nossas reações são penosamente patéticas.
Racionalizar sobre um tema que nos provoca a entender o conceito de “um nível mais alto de diferenciação e integração social”, “comportamento civilizado” e buscar sentido em idéias por vezes abstratas como “processo”, “desenvolvimento” e “evolução”, aciona comportamentos críticos internos da desobrigação de pensar.
Desataca-se que o autor compreende que a visão das sociedades humana somente pode ser entendida por meio de processos de longa duração de desenvolvimento e mudança. O elemento humano, caracterizado como o indivíduo, só pode ser compreendido em suas interdependência com seus semelhantes, como parte das relações sociais e não como algo mecânico e isento de crítica relacionando-se instintivamente com o meio em que está inserido. A sociedade não se faz por agregação meramente espontânea, existem fatores de complexidade provocativa.
Para Elias, não obstante a formação da sociedade pelos seres humanos que se interagem intencionalmente, o que vem de fora, o modelo social, reflexo da combinação das ações humanas é mais involuntário.
Pela lógica irrefutável do autor, não se pode atribuir ao fato histórico passado uma lógica social inexiste quando de seu acontecimento. Mas estes mesmos fatos, analisados como passado, carecem de um objetivo; no entanto a lógica é nos é revelada posteriormente.
Para Elias, o fato imperativo de se manter um Estado nacional moderno e suas instituições democráticas levou a nação a produzir o fermento ideológico que construiu sua tradição e, indo além, colocou-a como um fato dado, que sempre existiu e que existirá “ad perpetum” gerando um reflexo de uma etapa conclusiva do desenvolvimento humano e social. Em razão desse conceito, o pensamento ocidental ainda está arraigado com a noção de nação, e até que questiona essas sociedades e sua forma organizativa ficaram subjugados a esta concepção de estado, dicotomizado e maniqueísta, onde os conflitos contrapõem os ideais nacionais de forma simplista liberais e conservadores versus socialistas e revolucionários.
Norbert Elias propõe uma hierarquização metodológica para as ciências, buscando um lugar de encaixe para as ciências humanas. Para ele, primeiro vêm as questões naturais, não humanas, das quais os homens teriam um maior domínio, uma vez que nesse aspecto o distanciamento crítico é imperativo. Depois vem o conhecimento que trata das relações entre os homens e, em um terceiro momento, o controle sobre os indivíduos.
O que Elias pretende com sua metodologia é chegar a uma visão mais plausível do ser humano, para analisa-lo em sua multiplicidade, superando as dicotomias e resgatando a relação entre o indivíduo e a sociedade, o que indica também que se coloca contra os estudos sobre o homem – partem de coisas de suas vidas (instintos, idéias, sentimentos etc.) ou dos grandes modelos que enfatizam sempre um determinado aspecto da vida humana, como se fosse possível separar o ser humano e sua vida prática em campos independentes, como o cultural, o social, o político ou econômico. Essa visão o aproxima de Foucalt, que declarava “nada depende de nada e tudo depende de tudo, como bem sabem os historiadores”.
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