Crónicas : 

NOSTALGIA

 
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NOSTALGIA

Hora da sesta, cidade interiorana onde ainda se sente o clima nostálgico desse horário que alguns se dão o privilégio do descanso após o almoço. Privilégio esse que há muito saiu de minha rotina, pois o trabalho me consumiu esse prazer, porém fui compensada por outro tão agradável quanto a sensação de relaxamento depois de algumas hora de sono.
Nesse momento estou em minha oficina de costura e através da janela contemplo uma cena nada comum aos dias de hoje, se considerarmos o corre corre urbano que nos rouba pequenos prazeres que podem parecer insignificantes, mas fazem muita diferença quando ainda preservamos em nós o doce prazer de apreciar a natureza e repensá-la através do canto de um pássaro.
Pois é, ele está lá todos os dias às mesmas horas cantando e encantando, enchendo de magia esse momento que fica tão raro a cada dia. Seu gorjeio penetra não só os ouvidos, mas a alma como um doce convite a viajar no tempo em busca das reminiscências de minha vida pueril; e saudosista como estou neste momento lá vou eu.
Ah! Quanta saudade dos tempos de escola, ou melhor, do caminho da escola quando a criança podia ir e vir sem o perigo humano a rondar-lhe. Vento batendo no rosto, sol a pino, a cidade meio adormecida pela nostalgia do momento, as vozes uníssonas dos vendedores ambulantes gritando pão doce, picolé, pirulito e outras guloseimas que degustávamos naquela época. enquanto um ou outro galo anunciava com um cocoricó que também compunha essa sonata que agora só existe em minha lembrança despertada pelo canto do meu bravo sabiá visto de minha janela.
Por quanto tempo ainda terei o prazer da companhia do pequeno artista e de sua cantata saudosista?
Temo pela vida dele, receio um dia acordar e ver que esse lugar mágico, composto de uma casa abandonada invadida pela vegetação rasteira e uns entulhos de construção, além da árvore onde pousa minha ave canora para dar seu espetáculo, tenha desaparecido vítima do progresso.
Rubinha Lemos

 
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Rubinha
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