Vestiu-se de tempo
primeiro a saia
depois o linho de que são feitas as esperas
Vestiu-se praia
uma nesga de gaivota num canto de olho
Vestiu-se de maré, de barco, de espuma
de cais de chegada
Vestiu-se liláses, de lázaros, de pássaros
Vestiu-se de vidro, nem cristal nem areia
solfejo de peito de angina de sonho
Vestiu-se das peles dos animais
das alças tristes das árvores, das calçadas
Vestiu-se negro quase branco, num desespero nobre
numa espécie de arcanjo surdo
Vestiu-se nos alardes dos cães
nos tiros directos ao coração
Não lhe restava alternativa:
-Despir-se e recomeçar tudo