Prosas Poéticas : 

Morte

 
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Morte
 
Em uma triste segunda- feira, observei com espanto da janela do meu quarto, um mar ensanguentado e estático
Não havia ondas ou marolas, não se percebia o movimento simples dos peixes pequenos
Os ponteiros do relógio marcavam meio- dia, mas ao alto, nenhum resquício do imenso astro
O horizonte estava tão cinza e confuso! As montanhas pareciam rabiscos de melancolia neste pertinente inverno.

Em uma triste segunda- feira, observei com espanto da janela do meu quarto, um mar ensanguentado e estático
Homens e mulheres transitavam pelas calçadas em semblantes depressivos e aterradores
Os carros passavam vagarosamente, sem se notar absolutamente nenhum ruído
O silêncio tomava conta dos arredores com uma destreza admirável, em um mundo isento de cores.

Em uma triste segunda- feira, observei com espanto da janela do meu quarto, um mar ensanguentado e estático
As folhas das castanheiras estavam cinzas e murchas, não apresentavam o verde musgo de costume
Os ventos e brisas não passeavam mais pelas proximidades dos rios, e dos intermináveis barrancos
Um frio arrepiante predominava em minha casa, quando deixou aquele longínquo e gigantesco cume.

Em uma triste segunda- feira, observei com espanto da janela do meu quarto, um mar ensanguentado e estático
Constatei bastante surpreso, as igrejas totalmente vazias e por sangue fresco pixadas
Jardins a se perder de vista, com suas flores queimadas, e a ausência das admiráveis pétalas
Olhos avistando insetos na mórbida areia do cemítério, corpo debilitado, bandeira negra nas faixadas.

Em uma triste segunda- feira, observei com espanto da janela do meu quarto, um mar ensanguentado e estático
Os pássaros esbeltos que passavam felizes sobre os telhados coloniais, foram totalmente extintos
As samambaias e trepadeiras que enfeitavam a frente da pequenina Escola, viraram infinitas cinzas no piscar de olhos
As ruas e vielas tão fáceis de transitar nessa pacata cidade, transformaram-se em obscuros labirintos.

Em uma triste segunda- feira, observei com espanto da janela do meu quarto, um mar ensanguentado e estático
A minha casa estava vazia estranhamente, e nos quartos não avistava as minhas filhas, esposa, pais, irmãos, sobrinhos...
De repente senti algo profundo em meu conturbado interior, sendo lançado numa velocidade estupenda para um enorme recanto
Fiquei atrás das folhagens observando todos os meus parentes imersos a lágrimas, e eu ali repousava sereno em um simples caixão...

... Dei meia volta sem pingos de qualquer sentimento, olhei para baixo e mergulhei à vontade na escuridão intensa de incontáveis redemoinhos.
http://alexmenegueli.blogspot.com.br/

 
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Menegueli
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Enviado por Tópico
Betha Mendonça
Publicado: 04/04/2013 18:08  Atualizado: 04/04/2013 18:08
Colaborador
Usuário desde: 30/06/2009
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Mensagens: 6700
 Re: Morte
Muito bom texto.A descrição
em preto & branco de um dia
que até pode ser colorido (vá saber!),
para quem parte enche a gente de
melancolia e trás uma inexplicável paz.
Abraço.