Nasci e morei muito tempo numa cidade bem pequena chamada Bálsamo, no interior de São Paulo. Hoje Bálsamo tem cerca de oito mil habitantes, quando morava lá, a vinte anos atrás, era ainda menor. Em cidades pequenas assim não é exagero dizer que cada um acaba sabendo um pouco da vida do outro, afinal você está sempre encontrando as mesmas pessoas nas praças, nos bares, nos eventos... A maioria tem um amigo em comum ou um parente. Por um lado isso é ruim, sempre tem uma fofoca ou um palpite a mais que não devia. Por outro é muito bom, você acaba conhecendo pessoas incríveis, interessantes, figuras as vezes caricatas. Algumas dessas pessoas fizeram parte da minha infância, cresci ouvindo suas estórias que hoje lembro com carinho. Vou falar uma delas aqui. Como estamos falando de causos, vou começar pelo Sr. Neno, talvez o melhor contador de causos da região.
O Sr. Neno contava causos como ninguém, o pior é que jurava de pés juntos que tinha acontecido. Uma vez um amigo dele gritou do bar chamando-o:
- Oi Neno. Vem aqui "conta" umas mentiras.
O Sr. Neno que estava passando meio apressado...
- Agora "num" dá. Tô com pressa.
- Ah! Por quê?
- "Rapaiz", tô procurando meu passarinho que fugiu.
- Fugiu? Mas que passarinho?
- É um "pass...o-preto"
- É mais fácil "oce" "arruma" outro.
- O problema é a gaiola que é cara.
- Por que, quebrou? Não entendi!
- "Num" é que quebrou não, ele fugiu com a gaiola e tudo...
Outra que ele contava era mais ou menos assim:
Dizia que certa vez notou que uma de suas galinhas estava andando com uma das asas um pouco aberta e que conforme o tempo foi passando ela foi abrindo cada vez mais a asa, até que um dia ele viu algo estranho debaixo da asa da galinha. Quando ele pegou a galinha, a surpresa: Era uma caixa de marimbondo...
Não sei de onde o Sr. Neno tirava essas coisas!
Vou terminar com outra dele, a que eu mais gosto:
Ele vinha com um caminhão numa estrada de terra quando percebeu numa descida que acabou o freio. Era um "descidão" comprido e lá embaixo tinha uma ponte muito estreita que mal dava pra passar o caminhão, e logo depois uma subida íngreme (um "subidão", como ele dizia). O caminhão foi ganhando velocidade ele não tinha o que fazer. Num sufoco pra controlar o caminhão, que alias estava carregado, quando chegou um pouco mais perto da ponte ele viu um baita prego virado pra cima numa das tábuas que estava solta (olhos de águia). Não tinha muito tempo pra agir, mas pensou rápido. Pegou o revolver e, apesar de estar dirigindo e de não atirar bem com a mão esquerda, com um tio entortou o prego e conseguiu passar na ponte...
Pensa que acabou?
Não acabou não.
Lembra da subida?
Pois é!
Na subida o caminhão foi perdendo velocidade, mas quando ele achou que tinha parado, como não tinha freio, o caminhão começou a descer novamente; só que desta vez, de ré. Outro sufoco, teve que dirigir e passar pela ponte de ré só usando os retrovisores. O problema é que ao passar, o caminhão começou a descer de novo...
Por fim a coisa foi se repetindo até o caminhão parar em cima da ponte.
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