Um baile, Uma vida IV
Depois de levada pelo mordomo da Viscondessa Nadine, para ser instalada em seu novo quarto, Beatrice foi conhecer as crianças.
Victor brincava com seu cãozinho na varanda dos fundos, que dava para um grande jardim, nele, havia quatro bancos de madeira. Em um desses bancos, estava a pequena Marina com sua boneca de louça nos braços, ricamente vestida, parecendo também uma linda bonequinha.
Chamou-os:
_ Venham crianças, quero conhecer vocês, sou sua nova preceptora!
Eles vieram correndo, obedientes.
Victor foi o primeiro à falar:
_ Nossa, você é bem novinha! A outra, era uma senhora de cabelos brancos. Como se chama?
_ Sou Beatrice. E vocês são: Victor e Marina, acertei?
Marina respondeu antes que o irmão abrisse a boca:
_ Sim, esses são os nossos nomes. Você é muito bonita Beatrice.
_ Hum, obrigada menina Marina. Mas só quando estivermos os 3 sozinhos, me chame só pelo nome. Na frente de outras pessoas, é senhorita Beatrice, certo? Etiqueta é uma das coisas que tenho que ensinar como sua preceptora.
_ Sim, senhorita Beatrice!
Responderam os dois irmãos em coro.
Beatrice deu as mãos segurando um de cada lado, levando-os para o quarto de estudos: um cômodo do casarão, especialmente para essa função. Ali havia quadro negro, e 3 mesas: A grande com gavetas, seria para ela e as menores, para as 2 crianças. Havia sobre a mesa da professora, um globo, apagador e giz. Nas paredes, cópias pequenas de quadros dos grandes mestres Renascentistas, pois fazia parte do estudo, conhecer as Artes. Um livro com imagens de esculturas clássicas também estava sobre a mesa.
Daquele dia em diante as crianças tiveram uma simpatia muito grande por Beatrice, era recíproco. Pois ela era formada em Magistério, mas nunca usara seu diploma antes, para trabalhar. Seu pai a mantinha como a 'princesa' da casa, que deveria esperar pelo seu casamento arranjado, com alguém de dinheiro, como eles eram antes...
Esse contato novo com crianças, realmente lhe fez muito bem, até porque, crescera filha única sem ter com quem brincar, além das coleguinhas dos tempos de colégio. E parava por aí. Nunca era permitido ir à casa de outras coleguinhas, a não ser que fosse um convite para uma festa de aniversário.
A falta da Viscondessa Nadine, como mãe, no seio familiar, (pelos seus compromissos sociais) foi inteiramente substituída por Beatrice. Um vínculo forte havia se formado entre ela e as crianças.
Coisa que as outras preceptoras anteriores, nunca tiveram tempo para criar: A Viscondessa Nadine tinha um gênio difícil e se aborrecia por tudo. Acabavam então, por pedir demissão.
O Visconde Victório, homem observador percebia dia após dia o crescente afeto entre eles. Certo dia, chamou Beatrice para uma conversa em seu gabinete ao lado da biblioteca:
_ Senhorita Beatrice, vejo que meus filhos tem uma grande estima por si. Gostaria de acompanhá-los em uma pequena viagem à região serrana? Será no próximo final de semana, pois será feriado na sexta feira, dessa forma poderemos aproveitar mais tempo por lá...
_ Sim, é claro que irei. Já não consigo ficar longe desses pequenos. Nunca tive irmãos, sabe? E brinquei muito pouco na minha infância regrada. Eu os ensino, mas aprendo muito também... é uma troca de constante!
_ Fico muito contente mesmo com isso. Já que a Viscondessa não tem tempo para os filhos, a senhorita cuida deles mais do que uma professora, é sua amiga realmente.
_ Eles são crianças adoráveis mesmo! A Viscondessa disse-me no primeiro dia, e é a mais pura verdade.
_ Lastimo que ela não desfrute disso... Bem, deixemos as coisas como estão. Está combinado: Sexta feira todos iremos para a serra. Lá temos boa casa, com um imenso gramado, onde eles poderão brincar à vontade, sob os olhos da senhorita...
_ Grata pelo convite. Mais uma pergunta: Existe um piano nesta casa da serra?
_ Sim, existe, a senhorita toca piano?
_ Gosto muito, toco desde os meus 6 anos, a idade de Marina. Pensei em ensiná-la em aulas extras, se o senhor e a Viscondessa aceitarem pagar-me em separado. Pois na nossa grade de ensino, o piano é tratado como atividade extra classe, devendo ser pago por fora do salário.
_ Isso não é problema. Está contratada então para ensinar à Marina. Caso Victor queira aprender também, não tenho nada contra.
_ De certo. Fico agradecida por mais essa contratação. Bem, agora retiro-me, pois há muito o que fazer com os pequenos no dia de hoje ainda...
_ Vá então. Tenha um bom dia, senhorita Beatrice.
_ O mesmo para o senhor, Visconde.
Ela fechou a porta do gabinete, certa de que estava mesmo agradando ao senhor da casa. Era um bom início para seus planos. Além do que, amava já aquelas crianças de verdade, sabia que era correspondida.
A Viscondessa era segundo plano na vida do pai e dos filhos: Beatrice agora era dona de seus corações.
(continua no meu próximo livro)
Fátima Abreu