Libertei-me da grilheta
Que arrastava penosamente
Pelos corredores do abismo
Onde esqueci o significado
Da palavra amor.
No meio da humidade
Da fome, da saudade
Apenas sobrevivi pelo ódio.
Cada dia passado no calvário
Sentia a minha alma abandonar-me
E eu prisioneiro do tempo
Que lentamente afogava o meu coração
Num mar de rancor, de violência
Que me fazia viver cada dia
Na esperança de voltar a ver o sol.
Deixei de ser eu, o sangue era gelo
Que percorria as minhas veias
Ao encontro da pedra, que me batia no peito.
Deixei de sonhar, vivia acordado
Apenas a vingança me atormentava
E me fazia seguir em frente.
Quarenta anos eu e a grilheta
Juntos, unidos, gastos pelo tempo
Hoje, libertei-me desta minha companheira
Onde estou, não sei, apenas morri.
(Gaspar Oliveira)
Gaspar oliveira