Um Baile, Uma Vida III
Nada pode ser mais óbvio, do que uma jovem na cidade grande, sozinha, ser abordada pelos homens. Estando certos de que conseguirão dela, aquilo que esperam... Isso normalmente. Mas quando ela é mais esperta, tendo tudo traçado em sua mente, pode ser diferente...
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Na manhã seguinte, Beatrice tomou seu café da manhã no pensionato, logo depois de um banho reconfortante e usar o seu melhor perfume francês. Vestiu-se com um de seus melhores vestidos, pois sabia pelo anúncio do jornal que exigiam boa aparência... Isso ela tinha de sobra!
Beatrice foi a pé até o Solar dos Almeida, não gastaria dinheiro com um coche já que tinha boas pernas para caminhar e boca para se informar onde ficava.
Bateu à porta do imponente casarão. Um mordomo veio recebê-la:
_ Sim? O que a senhorita deseja?
_ Bom dia, estou aqui pelo anúncio do jornal. É sobre um emprego para preceptora de 2 crianças.
_ Ah, sim. Pode entrar e siga-me, a levarei até a Viscondessa Nadine.
Eles seguiram pelo enorme hall de entrada até uma biblioteca, onde já se encontrava a senhora da casa, lendo o 'livro do momento', ao lado de uma xícara de café fumegante e biscoitinhos de nata.
Apresentou-se à Viscondessa Nadine. Foi um verdadeiro interrogátorio, claro, depois dela pedir que Beatrice se virasse (para observar se ela estava de acordo com sua aparência, para o emprego).
Pareceu que isso a importava mais do que, ela teria de ensinar para o seu casal de filhos.
Com a educação esmerada de uma jovem 'ex' dama da sociedade, Beatrice se postou à altura disso.
Satisfeita com sua apresentação e respostas, a Viscondessa Nadine a contratou.
_ Pode começar hoje mesmo. Terá que mudar-se para cá, pois quero que fique em tempo integral com meus filhos. Eu tenho muitas coisas para cuidar, socialmente.
_ Sim, senhora. Voltarei ao pensionato onde hospedei-me na noite anterior, para pegar meus pertences. Logo estarei aqui de volta para começar meu trabalho com as crianças. Que idade eles tem?
_ Marina tem 6 anos e Victor tem 9 anos. São crianças adoráveis; pena que tenho pouco tempo para estar com eles... Os assuntos fora de casa, tomam muito do meu tempo! Mas o que há de se fazer?
São as normas da sociedade, tendo que viver conforme manda os costumes: chás beneficentes, círculos de leitura, almoços no clube aos domingos, jantares em casa de amigos, enfim...
_ Entendo senhora, Já participei dessas coisas com minha mãe, em um passado não muito distante...
_ Sim? Então o que a levou a procurar tal emprego?
_ Meu pai infelizmente teve problemas com os negócios, tivemos dívidas que tiveram de ser pagas e foi isso!
_ Certo, isso acontece mesmo com algumas pessoas que não sabem administrar aquilo que tem.
_ Pois é... Então com sua licença, vou até o pensionato pegar a bagagem.
_ Vá e não demore por favor, eles estão sem preceptora desde 5 dias atrás, quando a outra foi embora.
_ Não demorarei.
Beatrice saiu silenciosamente, fechando a porta da biblioteca com muito cuidado, pois a Viscondessa já havia retornado ao livro em suas mãos (para com certeza poder comentá-lo no próximo círculo de leitura)...
Na saída, Beatrice esbarrou em um homem de seus 35 anos no máximo, não imaginando que era o Visconde!
_ Oh, desculpe-me...Como sou afobada!
_ Estava com pressa mocinha?
_ Sim, sou a nova preceptora das crianças desta casa. Vou agora buscar minhas coisas.
_ Bem, não sou eu quem vai atrapalhar... Pode seguir por ali, senhorita...(?)
_ Beatrice Marques Fonseca, ao seu dispor.
_ Prazer em conhecê-la. Sou o Visconde Victório.
Beatrice engoliu em seco. Acabara de esbarrar no senhor da casa!
_ Bem, nesse caso, desculpe-me novamente senhor.
_ Não se preocupe, mocinha. Vá, cuide do que tem para fazer.
Ela virou-se e seguiu o caminho que dava ao grande portão de ferro, com o brasão da família para ganhar a rua. Mas dentro de si, já sabia como começar sua escala pelo sucesso em sua vida: O Visconde Victório.
(continua)
Fátima Abreu