Observa como os pássaros afiam com o bico os lápis dos meninos
Vê como os trazem nos olhos dos recreios
Sente como um caderno de linhas pode ter um comboio a apitar
Uma estação de borracha
Sobressalta-te num afecto que rolou da pasta
No meio de um lanche de palavras
Escuta como são belos os ruídos
As pálpebras dos sonhos
Aquilo que cada um traz numa rasura, no erro
Que te dizem os escorregas das lágrimas?
Vais ser feliz como a folha, o vento, a seda?
Olha em frente
Há sempre um paraíso numa folha por preencher
Num desenho por fazer
Esse é o encanto maior de se ser menino, pessoa
Vê-te para além do terreiro graminho
Num vaso de ventre
Numa janela de campos
Sente-te num abraço apertado com os livros
Que são uma espécie de gaiolas de pássaros
Mas sem portas, mas sem janelas, mas sem tectos
Escuta-te no apeadeiro das estrelas
Em cada lugar onde cintila o amor
A compreensão
A amizade
A paz
E rasga os céus como foguetão
Meu filho, meu aluno, meu irmão