mais uma leva de poemas de tiro-e-queda: poemas curtos pra quem curte. a vida é curta, compartilhe.
I
fui falar de amor:
mal abri a boca,
o neruda já tinha dito.
poeta maldito.
II
pôr palavra pra lavar
pra lavar palavra
por palavra
vá pôr a palavra pra lá
pra lavar a vapor
III
é preciso lembrar as siglas
PE, BR, CEP, CPF, INSS
DPVAT, IPVA, ONU, OTAN
vou ver se alguém me esquece
por favor, não me sigla
IV
mente-se a semente:
já é flor e nem sente
V
o subúrbio fala,
escute-o
não tem escada
nenhuma
e nas ladeiras
marcas de unha
improvisam o caminho
VI
cemitérios para os vivos
são mistérios para os mortos
VII
passam os anos,
passarinho
e eu fico aqui
sozinho.
eu,
e meus desenganos.
VIII
de maria, só tinha a devoção:
o gênio era do cão mesmo.
IX
ao poema de dieta
é mais barato
comer a poesia
e deixar o poeta no prato
X
enquanto
todo mundo
se dói
ao meu redor
me sinto meio
super-herói
XI
deitada na cama
a princesa engana
à noite acorda
e usa o lençol
como corda
XII
quando o ciúme
escapuliu-me do peito
virou foi voz de dois gumes
XIII
quando eu andar pra fora de mim
passarei um cadeado nos sonhos
o ferrolho será feito de liga leve
fácil de encontrar na realidade
XIV
naufrágio
nau frágil
sufrágio
universal
XV
a poesia escorre
quando jovens viúvas
lavam a solidão da cara
XVI
só vou deixar de madrugada
numa esquina abandonada
uma cachaça pros santos
brancos, pretos, euros, bantos
no dia em que oferenda
deduzir do imposto de renda
XVII
às pressas,
a promessa
lava a alma
lava a cara
já com calma
recomeça
e esquece
o que jurara
XVIII
a mentira tem pernas curtas
(e umas meias bem bonitas)
XIX
na insônia, garrafa de café
e carteira de cigarro funcionam
com um simples truque de mágica:
abracabou-se
XX
cada tiro
cada tombo
cada chão
com os pombos
repartir o
pão