Menino Deus!
Receba em sua lapa
os pequenos insepultos:
são anjos finados
na injustiça do homem.
Receba em sua lapa
os andarilhos insepultos:
são caminhantes cansados
na injustiça do homem.
Receba em sua lapa
a prostituta exausta:
foi anjo renegado
na injustiça do homem.
Receba em sua lapa
o pai desesperado:
tornou-se ladrão
na injustiça do homem.
Receba em sua lapa
o índio martirizado:
tornou-se revoltado
na injustiça do homem.
Receba em sua lapa
os desempregados:
foram marginalizados
pela injustiça do homem.
Receba, Senhor, às, mancheias,
toda esta raia miúda,
toda esta raia sofrida
na injustiça do homem.
E mil vozes, nesta súplica,
ecoarão como sinos:
vozes dos exilados,
vozes dos amordaçados,
que não chegaram a crescer.
Ecoarão também, neste grito,
vozes de muitos fetos
que falharam em seus destinos,
vozes dos pequeninos
que não chegaram a nascer.
Vozes de suas mães,
que negaram o próprio filho.
Pobres mães endoidecidas,
pobres mães filicidas,
na injustiça do homem.
Receba em sua lapa
o ressoar do remorso
destas consciências pesadas,
destas consciências compradas
na injustiça do homem.
Oh! Senhor Menino Deus!
Tenha piedade
da humana decadência,
e um Natal de clemência
abranja toda a Humanidade.
Que o sino, pequenino,
repicando em cada peito,
seja um carrilhão desfeito
todo em Paz e Harmonia.
Senhor! Senhor! Por um dia!
Ao menos, Senhor,
no Seu Dia...