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Escrevi um poema
sobre espiritualidade.
Todo rimado,
silabado,
na perfeição
que deve ser
a divindade.
Logo terminado
em métrica santa,
fui lê-lo,
como faço
para gozar
a sonoridade
dos devaneios
de letras.
Oras bolas,
que chatice!
Sentí-me cordeiro
berrando em compasso,
preso numa cerca
imaginária.
Quanto pasto além
da cerca,
da métrica,
da regra!
Quanta liberdade além
de qualquer grama,
de qualquer gramática.
Apaguei o poema -
heresia de delete.
O sagrado é indizível;
ele é,
no máximo,
música.
Fora de qualquer cerca,
de qualquer restrição.
A linguagem não alcança
a deidade,
ela,
no máximo,
entretém a razão.
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