hoje acordo e não sei do tempo,
os dias escondem-se-me debaixo da cama com medo da luz,
as horas, sei lá onde raio de sol as pus!
acordo e não encontro os sapatos, um, deixei-o a calcar papéis, num canto qualquer,
outro, serviu-me ontem de porta-canetas, onde é que o terei posto?...
ah, este vício de acordar, é de deixar qualquer um mal-disposto!
...
viro-me outra vez, tentando situar-me: em que dia da cama me deitei?...
sim, porque da semana, também não sei...
...
reviro-me e o avesso também não me contenta:
um poema ainda dormindo, o poema perfeito sempre incomeçado,
e ainda outro, a lambuzar mel, numa sebenta...
que raio, nem um poema só, que me lembre quem eu sou?
ergo-me, mas não sei para onde vou...
talvez seja hoje que pinte um quadro,
se achar as tintas...
ah!... achei-as!
mas ainda não é hoje que pinto a manta...
estavam nas meias
e só encontro uma, debaixo da banca
...