O que me inquieta não é o silêncio, mas o peso que tem o seu eco esmagador...
É como a palavra não escrita, a tal que não se vê, mas que sobressai no meio de todas as outras. E do fantasma que assombra a casa desabitada onde o medo se esconde no interior das paredes. Coisa que nos consome como um veneno sem antídoto, a corroer as entranhas, a secar-nos o sangue das veias e artérias até deixarmos de ser nós e nos transformarmos noutros seres, estranhos, sem memórias de coisa nenhuma. Frios e inférteis. Criaturas sem alma a vaguear pelo mundo ao qual já não pertencem (ou não deveriam pertencer). Máquinas com aspecto de gente a confundir os outros que nada sabem das metamorfoses da vida e das pessoas e vão caindo nas teias que lhes são montadas a preceito, onde são cuidadosamente enrolados em fios de seda mortal. Até deixarem de ser também, gente.
De maneira que, o que me inquieta não é o silêncio, mas o peso que tem o seu eco esmagador, em virtude do perigo de nos poder vir a emouquecer.