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Memórias de Uma Insana II – Surto

 
Tags:  loucura    insana    surto    ala psiquiátrica  
 
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Foto Betha Mendonça


Memórias de Uma Insana II – Surto
by Betha Mendonça

Na ala quatro do setor psiquiátrico o silêncio incomoda os ouvidos. É o isolamento. Quarto todo acolchoado: paredes, chão, cama, mesas...

Fui levada do setor um para lá depois da crise. O doutor e minha família mostraram ares de reprovação e desapontamento com a minha atitude... Mas, não eu tive culpa!

Despertei de repente com um latejar na cabeça. Eram tantas as vozes que falavam em línguas diferentes que fiquei descontrolada. Desejei que elas parassem. Quanto mais meu interior lutava contra elas, mais aumentam o tom dentro dos meus pensamentos.

No auge do desespero dirigi-me a um dos cantos do quarto e na tentativa de parar com o tormento, bati inúmeras vezes com a maior força que tenho com os lados do crânio nas paredes. E tantas foram às vezes e tanta a força empregada - o sangue a espalhar-se no cômodo - que perdi a consciência. Não sei se pelo traumatismo ou perda sanguínea, eu fiquei por dias desacordada.

Quando tornei a mim estava na ala quatro, os cabelos raspados, o couro cabeludo cheio de ferimentos com suturas semelhantes a uma convenção de centopeias.

Dizem que foram mais de setenta pontos para consertar o estrago feito. As visitas da família de semanais passaram a quinzenais. Mais isolamento... Achei até bom, por que eu não gostava do ar de piedade que me lançavam e da condescendência falsa que demonstravam ter.

O doutor mudou a medicação e o rumo da psicoterapia que estava usando. Disse que eu precisava me ajudar também. Não sabia como: já fazia o melhor que podia!Ele dizia que acreditava em mim e não ia desistir de me curar.


 
Autor
Betha Mendonça
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/03/2013 23:06  Atualizado: 26/03/2013 23:06
 Re: Memórias de Uma Insana II – Surto
Conheci uma pessoa que era maníaca-obsessiva, ela já havia sido internada várias vezes, tomado todo tipo de remédios, nada adiantava. Um dia perguntei a ela se ela sabia o que tinha e ela me disse que diziam que ela tinha isto ou aquilo (vários diagnósticos), mas ela mesma não aceitava a própria doença. Passei a perguntar-lhe os sonhos e fazer arteterapia, no fim, ela compreendeu que sim, precisava se ajudar, tinha de aceitar sua doença, confessar a si mesma o que sentia e saber diferenciar o real do irreal (era quase um milagre vencer a doença), mas ela, aos poucos, com o entendimento cada vez maior do seu problema e com estudos sobre como amenizar, de fato foi melhorando, procurou ajuda especializada. Hoje ela mora sozinha à beira mar, namora, não bebe (por conta da medicação), mas é super divertida, como fosse a mais feliz do mundo. Ela se descobriu!
Teu texto revela o sofrimento da personagem, algo muito comum em centros psiquiátricos, já que cada um diz uma coisa diferente e esquece de perguntar ao próprio paciente... Texto bem escrito e realista. parabéns!

beijinhos


Enviado por Tópico
GELComposicoes
Publicado: 28/03/2013 22:41  Atualizado: 28/03/2013 22:41
Membro de honra
Usuário desde: 04/02/2013
Localidade: Uberlândia - MG - Brasil
Mensagens: 2314
 Re: Memórias de Uma Insana II – Surto
Sinistro!
Tema forte. Prende a gente, bem escrito!
Gostei.
Abração.



Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 28/03/2013 23:39  Atualizado: 28/03/2013 23:39
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Memórias de Uma Insana II – Surto
Boa noite Betha,quando há um processo patológico, e o paciente tem consciências do fato pode ser incisivo na cura do quadro perturbador, Parabéns pelo seu instigante conto, um grande abraço, MJ.