Poemas : 

Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)

 
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Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)




E descem a marreta ensandecida como quem odeia
A palavra
E levam à forja a milhões de graus
Na esperança de arrancar o escalpo de algum sentido
Ou sabe lá o quê desse desespero.
E machucam e emprestam a feiura
De onde pensei, surpreso, nunca existir o medonho.
E sangram qualquer som hostil enrugado no grunhido,
A perder-se nas entrelinhas desse vazio.

A forma duvida, apesar do brilho(?),
Aliás tudo fica suspenso à beira do abismo
E se precipitam em plásticas espalhadas e disformes,
Posto que a distância impõe respeito nessa queda livre.

E cortam a palavra, e espancam a palavra,
E trituram a palavra entre caninos,
Suponho, como as bestas-feras na impossível fome.
Torcem as roupas íntimas puídas e estendem no varal e
Absolutamente nada dizem aquelas letras tão cheias de aridez,
Que ficam ali, na fileira imensa da estupidez, erguidas ao vento,
Ao curtume da navalha, do bisturi ou da faca
Do profissional da ideoplastia descambada no vil, ilusionista de si mesmo.

Tão bem arrumadas estas construções, tijolo por tijolo,
Num trabalho duro a saltar os olhos do diabo.
Satanás se contorce pleno de inveja –
Como pode essa criatura me superar na hediondez!?

E fundem a palavra, e fodem a palavra
Até putrefazer a palavra neste miasma,
E arrancam da palavra este chiado inconfundível, catarro e asma.
Tudo dentro dos mais altos padrões em série, exigidos pelos
Holofotes da passarela,
No corte e na dupla costura, seguindo as linhas e o modus operandi
De uma inclinada postura para o mais e portentoso nada.
Um niilismo elevado à putrefação e ao molho colorido,
Servindo à estultícia do pensamento fraco.

E vergastam a palavra, e torturam a palavra,
E afogam a palavra, e crucificam a palavra,
Até não haver graça nenhuma em teu sublime uso.
E depois de tudo, sério, muitíssimo sério, como a anta,
Colocam-se à mostra todas as vergonhas e dizem
Sem que ninguém possa ouvi-los:
Eis-me aqui neste aleijado e paralítico poema.

E depois tonitruam entre raios de estupidez: foda-se o amor.
De que me serve esse Assis, se a merda aduba as plantas?
Me alimento delas, dessas raízes.

E continuam na procriação e lambança de hímens e glandes, feito animais,
E riem e choram enviesados nesse sentimentalismo de veias e artérias,
Tão pobres e anêmicos e em sabor próximo, de mãos entrelaçadas.
É deste amor que tanto dizem, e explicam, e regurgitam, e vomitam,
E espalham, e enrabam, e enfrascam
Em vidros pequenos, médios e grandes de perfumes vencidos.

Mas o poeta, coberto de lepra, insiste contundente:
Eis-me aqui nesta construção feita de palha,
Este meu poema, este fogo de segundos,
Este monstro que tanto faz o gosto dos meus pares.

Digo:
E quem terá a coragem de me ouvir nesta solidão amarga
E saborear deste mesmo paladar solitário, talvez pior?
E quem terá a coragem de dançar em cima deste meu cadáver,
Que uni o verso neste multiverso de amar além das coxas?

Mas o amor virou mesmo um hieróglifo
E os arqueólogos não pensam mais em decodificar.
Uma vagina ou um pênis
É o souvenir perfeito e custa bem mais barato.

Para que amar assim tão universo? – pergunta o estulto da perquirição.
Amo somente neste oceano, respondo,
Porque aí sou plenamente livre. Outros lá estão.

As vísceras e seus correlatos, deixo aos cães.





MF.



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Srimilton
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Enviado por Tópico
carolcarolina
Publicado: 21/03/2013 18:36  Atualizado: 21/03/2013 18:36
Colaborador
Usuário desde: 24/01/2010
Localidade: RS/Brasil
Mensagens: 9299
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)
Amigo Poeta
Milton

Caramba...me limito a ler...entrei no labirinto e não encontrei saída...azar o meu
Destaco uma estrofe em que essa o poeta está coberto de razão
Bjus
Carol

Mas o amor virou mesmo um hieróglifo
E os arqueólogos não pensam mais em decodificar.
Uma vagina ou um pênis
É o souvenir perfeito e custa bem mais barato.



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/03/2013 18:59  Atualizado: 21/03/2013 18:59
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)
Meu querido irmão

Não sei se o Tico e o Teco conseguiram captar a sua mensagem.Será que se trata de uma réplica revoltada àqueles que subestimam a importância do amor? Será o excesso de apelação aos prazeres carnais ou ao erotismo meramente genital?

namastê

Angela


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/03/2013 22:21  Atualizado: 21/03/2013 22:22
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)
De origem considerada divina por seus usuários egípcios, o hieróglifo é a unidade básica de um dos sistemas de escrita mais antigos do planeta. Alguns caracteres hieroglíficos foram pontos de partida da forma de várias letras usadas em alfabetos modernos.

Há hieróglifos que indicam atitudes, ofícios, sexo e idades dos seres humanos. Entre eles (os chamados sinais determinativos) três hieróglifos se destacam de modo espantoso. A tal ponto que suas imagens se tornaram ícones da própria capacidade criativa: as pirâmides, as esfinges e os obeliscos. Essas figuras entraram no imaginário coletivo planetário e raramente se faz referência à sua gênese milenar, o continente africano. As pirâmides, por exemplo, são consideradas um patrimônio da humanidade.

Hieróglifo é todo elemento utilizado num sistema de escrita pictográfica, como a egípcia. Os primeiros hieróglifos eram desenhos simples que representavam um determinado objeto, e em geral apareciam em monumentos, tumbas e templos. Em sentido estrito, o termo hieróglifo (em grego "talha sagrada", tradução do egípcio "as palavras do deus"), refere-se aos caracteres da escrita egípcia, que provavelmente remonta ao final do quarto milênio antes da era cristã.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/03/2013 23:22  Atualizado: 22/03/2013 00:22
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)
desta vez te percebi numa escrita que retrata toda sua indignação. a partir de o seu olhar constata-se quão inadequados hoje os versos são, forjados sem zelo, toscamente cingidos, portanto inaplicável se considerarmos o que podemos cobrar na prática, a simplicidade, a delicadeza, o amor pelas palavras mesmo que numa poesia escrava.
posso entender o motivo dessa vara em punho, açoitando veementemente o que dizem o que fazem do poema, do poeta, da poesia.

“dito nos antigos escritos, Exegese de Mateus 21, relata que Jesus expulsou as gentes do templo porque os fariseus feriam os ideais cristãos. episódio que evidenciou a atitude de Jesus, pela sua agressividade, “apenas zelo pela casa do Senhor”– também no evangelho de João se antevê a narrativa do Messias, que disse; “o zelo por tua casa me consumirá” (Jo 2, 17)”

(nem sei por que pus isto aqui, enfim!)

já hoje eu não creio mais nas opiniões dos ‘bambas’, que se supõe abalizados e de fama literária duvidosa. não valem nada, ponho-os no mesmo patamar daqueles comentadores inaptos de conhecimentos da nossa Língua, sabido na própria escrita com que se apresentam, com suas interferências idiotas...

.concordo que “A poesia pode ser ultramegasofisticada sem perder seu brilhantismo e simplicidade.” E que; “São essas poesias que me fazem beijar os pés dos seus respectivos autores.”

raros momento, parece que não, mas, sou adepto da simplicidade no verso, da mensagem sem subterfúgios, do poema facilitador da leitura... o rebuscado nas palavras é chato. destoa da contemporaneidade que vivenciamos e tão somente isso que precisa a poesia para crescer, numa abrangência maior de entendimento.

, “Metalurgia sem refino(ou a merda em vã tentativa)”
é um grito azedo, que resgata, atualiza e sinaliza a necessidade ‘imediata’ de a gente escrever e monitorar a própria escrita.com um olhar com mais cuidadoso sobre os caminhos tomados... conservar-se firme nos ideais é condição ‘sine qua non’, prostituir-se não, suicidar-se jamais, e muito menos matar a poesia.

viajei, cara. o visceral pode ser feio, mas; mais feio e desnecessário é não se fazer entendível.

meu abraçaço carioca, Xará.



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/03/2013 01:51  Atualizado: 22/03/2013 01:52
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa) p/ Milton
eu espero, e realmente, que não te seja um versão/visão de si mesmo.. ou pior, se por acaso for uma novela, uma tal de impressão e dedução à tarja de costume ou forma, ou pior.. ainda, se for uma direcção irrealizada, uma parte de um conto assaz em progressões outras, diria também, oferendas, aí então seria bem pior..

mas, o que vejo no teu poema cheio de falas e crases às frases? eu diria: que vc denota-lhe(à poesia) qual um terço repetido, vezes deixado, vezes maldito, mas, ainda um terço. q.. sempre estará ali. à mão. à fome que te faz morder. morder a mão da "poesia", hah!

muito bem articulado, por sinal em questão da sua mesma lisura, diria-te usura, mas acho que não te caberia, enfim. ótimo pra ler. ótimo pra achar ali, vestígios e outros subterfúgios em que um poema de alarde deve(em suposto ¬¬) ter.

mas eu ainda não vejo motivos pra não macular a poesia, outrora dita quando em liberdade de palavras,e agora posta nisto: um tribunal de pequenas crases, ops, causas literárias interpretadas pela astúcia de um poeta prevaricador,




e te deixo um abraço, tb


Enviado por Tópico
GELComposicoes
Publicado: 25/03/2013 03:39  Atualizado: 25/03/2013 03:39
Membro de honra
Usuário desde: 04/02/2013
Localidade: Uberlândia - MG - Brasil
Mensagens: 2314
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)
Oi Milton,
Não lhe entendi desta vez. Justo você que sempre demostrou tolerância indo contra a liberdade. Deixe torturarem, esganarem, trucidarem as palavras. Elas não sentem, não morrem. Faz parte do aprendizado. Quanto ao amor, no poema ele deve vir de fora pra dentro e não ao contrário. Ainda, o gosto é igual ao cu, cada um tem um. Diferentes pessoas vão enxergar de forma diferente um mesmo poema.
Quanto ao Assis, que vá pro Machado. Bom ou ruim o novo sempre virá. Graças a Deus!
Abração.




Enviado por Tópico
miriade
Publicado: 26/03/2013 19:15  Atualizado: 29/03/2013 00:01
Colaborador
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Localidade: Brasil
Mensagens: 2171
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)
Ao poeta entendemos a capacidade de apreender as palavras ao seu original estilo,ao leitor, o poder de liberta-las... ao seu modo, à sua interpretação!

Belo de conteúdo! poema ...


Carinho, Lu

Enviado por Tópico
RaipoetaLonato2010
Publicado: 14/04/2013 00:55  Atualizado: 14/04/2013 00:55
Colaborador
Usuário desde: 13/03/2010
Localidade: Paulínia-SP
Mensagens: 2788
 Re: Metalurgia sem refino (ou a merda em vã tentativa)
Um denso poema e astuto. Digno de estudo e perquirição. Li num único fôlego e afirmo:És um dos melhores poetas dessa orbe on-line.