Que dizer da poesia? Que dizer de quem escreve e faz dos sentimentos tinta que borra o papel em traços delineados pela emoção. Dizer que o poeta é um mentiroso, é muito simples, dizer que é flor a desabrochar, muito rebuscado, ou não estará na morte da flor um sublime espaço poético? Não estará na verdade que o poeta escancara por vezes de forma subjectiva o ultimo objectivo da poesia?
Ser poeta não é ser mais alto, é ser o comum dos comuns e nessa humildade ser capaz de ver o que mais ninguém vê, fazer da vaidade alavanca que o torna, aí sim, mais alto porque comungando das vivências do que o envolve, veste-se de povo, despe-se de preconceitos, porque nem tudo na poesia são cores do arco-íris ou amor desbravado a talho de rimas e confissões melosas.
Ser poeta é ser capaz de escrever verdade ainda que minta no pressuposto do que sente no momento, mas a ideia subliminar deve e tem de ser sempre verdadeira por força da razão poética e da não desvirtuação do dom que almeja. A verdade e o inconformismo consubstanciam o que de mais virtuoso a poesia encerra.
O poeta é por isso e antes de mais, um intervencionista. E sempre que um poeta se cala é uma andorinha que morre, uma primavera que empobrece.