A lua na amplidão celeste com sua luminosidade opaca, assemelha-se
A um pneu em circulação. Apenas a sua florescência azulada fica
estabilizada. O Cruzeiro do Sul no céu límpido, com suas estrelas
distanciadas, o vai-e-vem das ondas propagando sons metálicos, tudo
acalma os meus nervos repletos de fantasias. Da floresta lateral, ouço
os trinados de vários pássaros. Fico inebriado com a realeza do
esplendor e pego o violão. À proporção que meus dedos dedilham as
cordas, canto “TANGO PARA TERESA” de Jair Amorim e Evaldo
Gouveia:
Hoje!
Alguém pôs a rodar
Um disco de Gardel no apartamento junto ao meu
Que tristeza me deu
Era, todo um passado lindo
A mocidade vindo da parede me dizer
Para eu sofrer
Trago a vida agora calma
Um tango dentro d´alma
A velha história de amor
Que no tempo ficou
Garçom, ponha cerveja sobre a mesa
Dandoneon, toque de novo que Teresa
Esta noite vai ser minha e vai dançar
Para eu sonhar
A luz do cabaré
Já se apagou em mim
O tango na vitrola
Também chegou ao fim
Parece me dizer
Que a noite envelheceu
Que é hora
De lembrar e de chorar
De alguns terraços dezenas de aplausos. E o poeta, que também é
Seresteiro, se emociona e recorda-se de sua fazenda “Nas quebradas
Das Serras”, distante, no interior de Goiás, onde as noites de serestas
eram rotinas. De sua voz, apenas ecoam sons graves. Falta-lhe
o aroma suave do vinho. E, a poucos passos, sobre a mesa, uma
garrafa vazia pontua mais um final de noite!