debaixo de um viaduto
numa noite quente de março
uma barraquinha vende cachorro quente
ao lado um vendedor de flores
exibe dálias e crisântemos
meio murchas num balde de água suja
expondo bilhetes de loteria
matizando em mil cores
aquelas fatias de vida banal
noites cálidas o décimo sexto dia,
de uma noite tépida de março
a barraquinha de cachorro quente
debaixo do viaduto exala mostarda
o vendedor de camiseta branca
com um gorro encardido
fuma um cigarro entre os dentes
misturando o cheiro do fumo
ao cheiro doce da mostarda
limpa crostas de gordura
com uma espátula da chapa de ferro
aguçando o olfato dos passantes
sobre os destroços do que foi um carro
cães vadios lutam por um espaço
enquanto os carros passam e vão
senhoras gordas e faladoras
ignoram o delicioso odor
as pessoas vão cuidar da vida
as dálias crisântemos e cães convivem
com o aroma da mostarda amarela