PRESÍDIO, MEU LOCAL DE TRABALHO.
Mais um dia de trabalho.em uma linda manhã de domingo. Caminho em direção do presídio, sim, é o meu local de trabalho, é o local, onde a sociedade quer esquecer e ficar bem longe. Até o próprio Dostoiewsky intitula a prisão como “ casa dos Mortos” em seu livro “A Recordação da Casa dos Mortos”, porém discordo com esta afirmação. O presídio é o mundo de vivos, com seres humanos com sentimentos (bons e ruins), e que construiram a sua sociedade – uma sociedade bem estrutura e com regras e leis próprias e que devem ser obedecidas a rigor.
Observo, ao aproximar do portão, uma fila enorme, como de costume, formada na sua maioria por mulheres - já que trabalho num presídio exclusivamente para homens. Pode-se notar nos semblantes destas pessoas a angustia, a tristeza, os desabores, a resignação, a alegria, enfim, carregadas de sentimentos que só elas podem descrever.
Atravesso aqueles grandes portões,austeros preparados para o confinamento de milhares de sentenciados, que por algum motivo ou sem motivo romperam com as regras e as leis impostas pela sociedade, aprisionando os seus corpos, seus sonhos, suas violências, suas maldades, seus amores, seu ódio, seus medos, com a intenção de torná-los mais dóceis para o seu retorno à sociedade.
Continuei o meu caminho e pensei: Qual seria a emoção do dia?
Em todo o meu percurso olho com atenção o carregamento pesado trazido por elas, para os seus companheiros, seus esposos, seus amantes, seus filhos, pais...
Ao iniciar os trabalhos, algo me chamou atenção – era uma senhora com pouco menos de 40 anos, com um olhar tão amargurado , causando-me uma grande inquietação. Estava de cabeça baixa, como se aquele ambiente fosse o pior lugar do mundo e se aproximou. Antes de dar o prosseguimento aos trabalhos lhe fiz uma pergunta:
- A senhora esta triste? – Ela me fitou com um olhar vazio, então pude notar que lágrimas saltavam do seu rosto, doídas e nada me respondeu e continuei:
- Por que está chorando? Então me respondeu com uma tristeza enorme e toda ressabiada, que até hoje não consigo esquecer.
- Eu sou a mulher mais infeliz do mundo, pois venho visitar em uma cadeia o meu único filho querido, que de acordo às minhas possibilidades dei a melhor educação e eis onde me encontro.
Naquele momento, fiquei sem palavras, tamanha emoção daquela sofrida mulher e comovida lhe respondi:
- Todos nós temos as nossas histórias, umas boas, outras ruim e algumas razoáveis, quantas mães hoje estão sem esperança por seus filhos estarem no leito de morte e a senhora tem a esperança do recomeço. Ela me olhou e saiu em silêncio e não a atirei mais dos meus pensamentos – pois a sua amargura e a sua dor nunca esquecerei.
Ufa! de volta para casa. Meu filho veio ao meu encontro, beijou-me, então eu vim entender aquela mulher.
Valentina Luzia de Jesus