Era o dia da Mulher
e a vós,
Mulher de todos os meus dias,
no fogo do olhar,
prometi rosas.
"Rosas?...,
por caridade, senhor, não...",
disseram-me vossos olhos em receio,
"flores de ruína,
seriam tais rosas de Janeiro,
provas vivas duma oculta inclinação,
manchas visíveis duma paixão clandestina,
pétalas de sangue no meu regaço,
pretextos de pedras cruzando Março..."
“Uma que seja, meu amor,
uma só flor...”,
supliquei, em suave teimosia,
invocando a data e a galhardia...
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Sete eram as mulheres às vossas saias,
entre amigas, parentes e aias,
naquele jardim, ao fim de tarde:
E foi mais que ousadia, menos que medo,
aquele querer ver-vos, em segredo,
beijando uma rosa que eu beijara...
Era o dia da Mulher, naquele dia,
e, no meu peito, também o da audácia
de tocar-vos, ao de leve, a pele de seda
ofertando-vos uma rosa inocentada,
mesmo que só por artifício isso suceda...
À vendedeira de flores, prometi ouros,
pelas rosas mais belas que pudesse
entrecolher, das poucas da braçada,
(era Inverno, bem sabeis, já morredouro...)
para oito senhoras que eu honrava.
E assim, intentos justificados,
pude dar-vos, entre tantas gráceis damas,
uma rosa, rubra e pura de pecados,
sem ninguém perceber que ia em chamas...
Carregada de intenção, ó doce amada,
de portar-vos o amor que em mim guardava!
E em íntima fantasia, cúmplice senhora,
destes-me o mais doce e terno abraço,
que gravou na minha alma sonhadora
esperanças de outros oitos de Março...
Teresa Teixeira