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Re: A FORÇA do TEMPO de CRIANÇA
É verdade caro poeta, há momentos assim na vida das pessoas, agora mesmo fez-me voltar também aos meus tempos de criança, que perfeitos foram...quem me dera voltar a ser criança para reviver todos estes momentos outra vez, se me permite aqui vão, tão perfeitos à luz dos meus olhos:
Genuínas reminiscências
Arrebata-me uma saudade na rajada do vento, na morrinha e na invernada que rasga o silencio oh, e à noitinha junto à lareir’ acender o lume, com a saruga do pinheiro, os gravetos d’ acácia, e as folhas tenras d’ eucalipto e do loureiro, e das bagas oh, o cheiro, sob as rachas da lenha resguardada no palheiro de paredes de pedra e de telhado rijo fabricado n’ olaria da minha rua. Arrebata-me a saudade das brasas na lareira sob a panela de ferro, cozendo o milho, ou a sopa de trigo ou o bolo do caco e a castanha no brasume p’a família inteira. Arrebata-me uma saudade na cartola e no garrafão de vime, e no corno do boi cheio de vinho caseiro amiúde...e dos poios laranja terra, adubada com o estrume da vaca e a mondada a eito das urtigas e da erva melada...e das botas d’agua da rega na levada clorofilada de musgos, ervas aromáticas, treviscos, giestas, dente de leão, abundâncias, trevos, pata de galinha, junquilhos e malvas. Arrebata-me uma saudade na vassoura de urze e na vassoura de palha e no cabo de madeira, da pá, da foice, da pedoa, da enxada do machado e da lima...oh e arrancar a erva do pátio na calçada. Arrebata-me uma saudade de beber água com sabor a terra das nascentes e do verde dos montes ingremes, numa bica de palma fazendo a ponte na levada quebrada. Ah e do toque das ave-marias, às seis e meia e as mulheres resguardadas de pés em banho-maria absorvendo um calorzinho na derme fria, e as mãos em direção ao azul do céu, ora num tom azul anil, ora num tom azul mar, ora num tom azul petróleo ora num tom místico pardacento rezand’o terço e dando as graças pelo berço abençoado em que foramos acolhidos.
Maria Luzia Fronteira Funchal, 08 de maio de 2012
Abraços Luzia
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