- Desde criança, e criança pequena, eu digo, sou um apaixonado por óculos.
Eu via os idosos usando óculos e achava o máximo.
E meu avô, então . . . ?
Imaginem: ele tinha um óculo, isso mesmo, no singular. Era um aro de ouro, ou prata, já nem lembro, com uma lente, que era preso a uma corrente, que ficava no bolsinho do paletó, o óculo é claro, minha senhora, que meu avô sempre usava paletó! e, quando necessário era colocado no “olho de ver”, o que permitia que meu digníssimo e lindo avô lesse todas as notícias e documentos, enxergasse todas as fotografias, contasse o dinheiro, cédula por cédula, etc., etc.
Servia ainda para disfarçar, eu acho, pois quando alguém fazia uma pergunta embaraçosa, meu avozinho tirava o óculo do bolsinho e ficava limpando, limpando, limpando . . .
Eu olhava as crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos que usavam óculos e achava lindo. Só não conseguia entender para quê servia aquilo, pois quando eu experimentava os óculos de alguém, não enxergava nada direito.
Mesmo assim eu queria um.
Outra coisa que me atraia, nos óculos, era aquela mágica: Você concentrava a luz do sol sobre um papel, ou pedaço de madeira, ou um bichinho, e via sair uma fumacinha, que às vezes chegava à chama.
Quando eu focalizava no braço da minha irmãzinha, nem chegava a sair fumaça e ela já saia correndo e chorando.
-Minha irmãzinha, sim, minha Senhora; Naquela época eu não tinha sogra, ainda!
Um dia, ainda me lembro desse dia, meu irmão, um pouco mais velho que eu, teve a idéia:
- Porque não usar a armação sem lentes?
Gostei !
Fui à gaveta-do-meio do guarda-roupas de minha avó, peguei uma armação velha, já aposentada, e tirei as lentes...
... Um gênio, o meu irmão.
Eu usava a armação e me sentia bonito, enxergava tudo perfeitamente e ainda podia coçar os olhos ou andar na chuva, sem precisar tirar os óculos.
Lindo! Até eu perceber o ridículo daquilo.
Então decidi comprar meus próprios óculos e, após juntar um dinheirinho, ganho com a venda de “tampinhas de garrafas de leite”, comprei uns óculos de sol.
Tinha um inconveniente, ainda. Eu não podia usá-lo durante a noite, ou dentro de casa, ou no cinema, mas, fora isso, . . .
Hoje, já homem maduro, eu percebo a bobagem que eu fazia em gostar de óculos.
Minha vista enfraqueceu, por isso passei a usar óculos de leitura, na ponta do nariz, que me serviu a contento até piorar um pouco, então precisei de óculos bifocais.
Hoje eu tenho os óculos para perto, para longe, o de sol, o bifocal, de dois anos atrás, o multifocal, deste ano e: acreditem, uma lupa, para quando preciso enxergar direito.
Além desses, um amigo meu insiste em dizer que eu tenho também os óculos para procurar os óculos.
Bons tempos, aqueles, do meu avô! Bastava um óculo para tudo...