As chamas sobem e descem e o clarão ilumina-me o rosto, estou tão próxima do fogo que me deixo arrastar numa sonolência e o sonho não se faz esperar...o açude canta a canção de sempre e me espera, já avisto as telhas vermelhas dos telhados, o fumegar das chaminés, ouço agora o cantar dos galos, os sinos que tocam, e aproximando-me mais o cheirinho do café fervendo nas brasas. desço o carreiro, as flores sorriem para mim, acabaram de acordar, ali ao lado os feijoeiros despontando anseiam crescer, também eu sonhei crescer...calco bem o chão com os pés descalços e o meu coração se abre em espigas de ternura, sinto-me ave livre na tarde doce, enfeito os cabelos com narcisos e os girassóis moem-se de inveja...canto uma canção que ninguém ouve apenas eu e o açude murmuramos, tantas saudades tínhamos um do outro, da figueira dos figos roxos, dos amigos, nada esmoreceu no meu peito é certo! Agora que estamos tão perto, se esquece a distância à força dos sonhos, as minhas mãos nervosas colhem rosas e o aroma silvestre ainda trago comigo, como doce castigo...o tempo passa e me fala com ironia dos meus cabelos brancos, dos versos tristes que escrevo, da vida longa que já levo, ouço com resignação, o sonho não passa de ilusão, meio torto e distorcido de cansaço ressequido...fecho os olhos por fim e volto a sonhar com saudade de mim...
natalia nuno
rosafogo
Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang Von Goethe