Meu doce amor
fiquei tão triste , hoje e ainda ...
será que o papel e tinta
que me ensinaram
serem a essência de tudo o que é vida
- acredita-se que Deus escrevia
antes de criar o mundo-
ditaram a sentença
que (me) matou a palavra desenhada?
e palavras são águas caligráficas
que a boca aprende , trémula e sequiosamente ,
a sorver no mais sagrado rio :
- o leite materno !
e palavras são ventos , ar ! ,
que os ouvidos aprendem a escutar
no mais belo espaço :
- o lar !
porém , minha única ,
cada letra que digito
estremece-me , quase até rebentar ,
como um terramoto
esventrando a terra ,
e , ó amor , não é a terra
é o meu corpo
(este meu corpo que me falta)
porque é teu
porque vive , ó sombra ! ,
abraçando desesperadamente
o mais pequenino sinal
da tua presença , ó sol !
(talvez apenas o delírio seja real...)
Entretanto ausente de entre
e vazio de tanto
fiquei tão triste , hoje e ainda ...
porque ....
tenho papel , tenho tinta
mas não sei escrever(te)
as lágrimas felizes que viajam neste dia
nem as ideias banhadas pela sagração da tua imagem
muito menos o sorriso do caminho
em que tu és eterno jardim de estrelas
(acredita-se que as flores são Deus
labutando com os astros pelo equilíbrio do universo)
alongo-me , minha querida ,
nesta estrada vertical
que por vezes vira retrato
quebrado no chão duma casa em ruínas
e deste amor que de tão profundo e imenso
reduz todo e qualquer infinito
ao infinitamente pequeno
que foi que a minha (in)capacidade
de soletrar verbos carinhosos , num ápice e antítese ,
(não)te transmitiu ?
talvez ...
do leite e do materno
do ar e do lar os seus ventos
eu nada tenha aprendido...
se calhar nenhum de nós nasceu para aprender ...
se calhar ... nascemos , somente , para nos encontrarmos
e ...
não é isto muito mais do que o bastante ? ...
Luiz Sommerville Junior , 050320130756