Nasce em ti, nasce em nós o simples e verdadeiro sentido de uma vida sem qualquer sentido. Os anseios perdidos de uma escultura sem vida, sem humanidade profunda resgatam em Oceanos e Mares a mais vivida vida de uma escuridão sentida.
Voltas ao início da tua vida que muitos chamam a casa de partida, a casa onde nunca foste amada mas sim apedrejada pelo sofrimento da alma envelhecida. Encaras com o espelho dos teus antepassados, aproximaste-te, o teu rosto desfigurou-se graças às lascas do velho espelho partido.
Caminhamos cerimoniosamente pela enorme floresta onde te perdias nos teus tempos de dor e angústias. Naquela vida passada vagueavas tempos e tempos pela escuridão dos sentidos e nadavas na imensidão do lago gelado, aprendeste a sobreviver à tua própria imortalidade.
Começa a chover, não tens medo de te molhar e até gostas de sentir as gotas frias na tua tez morena. O rosto recheado de cicatrizes invisiveis de uma infância amargurada e incompreendida por todos. Sorrio suavemente ao ver-te saltar de poça em poça, tenho a impressão que voltaste a ser criança mas uma criança muito mais feliz num Mundo que ainda te quer assustar.
Fico feliz por te ver feliz, feliz por seres feliz e feliz pela felicidade de nos fazermos felizes.
O sol voltou a romper as nuvens negras, no horizonte temos a beleza do arco-íris e o uivo de um lobo perdido da sua alcateia que nos fez arrepiar, arrepiar toda uma Natureza desconhecida para a maioria da Humanidade.
Pegaste na minha mão e fizeste-me correr atrás de ti, saltamos por ramos caídos, passamos por árvores robustas que nunca antes vira e como era bom conhecer um pouco de ti, como eras outrora nos momentos agrestes de uma silenciosa vida sem vida. Paramos finalmente, olhaste para mim por cima do teu ombro nu com o teu olhar terno e esboçaste um pequeno sorriso. Estavamos ambos na presença de uma enorme cascata, o som da água a cair no fundo é inexplicável. Apontaste para o ramo de uma árvore próxima, um esquilo debatia-se com uma bolota e ambos rimos, como era perfeito ver-te sorrir.
Sentamo-nos numa enorme rocha com os nosso pés na água e os pequenos peixes saltavam e nadavam perto de nós. Os nossos sorrisos eram abençoados por toda aquela magia que me deste a conhecer e agradeço por tudo isso.
Toda esta magia terminou, terminou ao silêncio de um suspiro...
Falam tanto da imortalidade da vida mas nunca a vi.
Bruno Miguel Inácio