Capítulo I
10 De Janeiro de 2013
São neste momento onze e meia da noite.
A minha vida anda virada do avesso e não sei bem se sei o que quero fazer dela.
Sinto que o mundo me quer abandonar e eu estou a deixar.
A cada novo dia, concentro-me mais e mais no meu mundo, havendo até dias em que me esqueço que, há mais gente ao meu redor.
Contínuo em casa a braços com o desemprego, e com a fraca figura que sou.
A minha débil vaidade, insiste em mostrar que cada vez mais, o mundo em que me sinto bem é em casa.
De vez em quando lá saio, mas mesmo quando tenho convites para permanecer mais tempo na rua, muitas das vezes recuso-os por pura insegurança. Medo de descobrir o animal que existe em mim.
Já inventaram o correio electrónico e os telemóveis mas nada dessas novas tecnologias transparece tanto os sentimentos como a boa velha carta.
Onde a letra pode ser mais direita, ou mais torta, dependendo do que nos vai na alma. Onde podem ainda haver réstias de lágrimas, e onde principalmente os sentimentos são o que nos une.
O facto de te estar a escrever não só pretende demonstrar que me preocupo contigo e que me lembro, mas principalmente funciona como se as minhas palavras, neste pedaço de papel maldito, fossem a cozinhar e a apurar, até chegarem a ti, no estado mais esplendoroso possível.
Adoraria do fundo do coração poder dizer-te que a minha vida é um jardim, mas falta-me a coragem para te mentir de forma tão descarada.
O vazio que me preenche a cada novo dia, apenas o torna cada vez mais parecido com um qualquer deserto. Mas como em cada túnel, há uma luz ao fundo.
E essa luz é representada pelas tuas palavras, pelo amor, carinho, dedicação e tempo que dedicas a responder a cada uma destas minhas cartas.
Pela liberdade que me dás, no máximo que posso ter.
Faz hoje três dias da ultima vez que me iluminaste, e só agora consegui arranjar calma em mim suficiente, para te escrever esta carta sem que o papel se desfizesse por completo.
Consegui de certo modo fechar as torneiras, mas não sei por quanto tempo as vou aguentar.
A verdade é que a verdade não se alterou uma vírgula.
Sinto muitas saudades tuas, e sei que nunca mais te irei ver… E a cada noite que me sento a tentar escrever, tento a mim próprio convencer de que não mais haverá jardim.
A única flor que queria puder cuidar nesta vida, foi levada pelos ventos de um furacão chamado justiça.
Amo-te como no dia em que me declarei a ti pela primeira vez.
Para sempre teu…
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12 De Janeiro De 2013
Passaram desde a primeira vez 10 longos anos.
E hoje é a primeira vez que te escrevo fora daquele quarto embarrado, onde era difícil não me sentir consternada.
Jurei a pés juntos a minha inocência, mas a justiça ainda assim condenou-me.
Não adianta mais clamar por justiça porque ela já foi servida.
Aguardo com extrema ansiedade o dia em que nos voltaremos a ver ser ter um vidro entre nós.
Anseio sentir o calor do teu abraço a afagar-me.
Dá-me apenas mais uns meses para que possa começar a refazer a minha vida.
Através de uma das guardas prisionais, com quem me relacionei melhor, consegui arranjar um trabalho.
Em seis meses livro-me da condicional e voltarei a poder estar contigo.
Espero que não te vás a baixo por completo.
Conheço-te melhor que ninguém e sei que és muito mais forte do que aquilo que pensas que és.
Um dia o mundo vai ver aquilo que eu já vi, é apenas uma questão de teres um pouco mais de paciência.
Para Sempre Tua.
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14 De Janeiro de 2013
Sinto muito a tua falta amor.
Honestamente gostava de te puder dizer algo muito mais profundo, mas só o meu coração sabe o quanto me sinto feliz por finalmente te ver livre daquela prisão monstruosa.
Faz amanhã um mês a última vez que te vi. Apesar de todo o desânimo que a minha vida tem provado ser, a verdade é que anseio mensalmente por este dia do mês. Sexta-feira o meu irmão vai à cidade em negócios como habitualmente, e já me disse para ir com ele.
Por favor na próxima carta que me mandares envia-me o sítio onde queres que nos encontremos.
Estou cansado de sentir o teu perfume apenas em sonhos, quero finalmente puder voltar a senti-lo bem perto de mim.
Mas mais do que do teu perfume, sinto falta do teu sorriso.
O sorriso que foi a luz do meu viver nos últimos dez anos da minha vida.
E muito embora tenhas tido sempre muito menos motivos para sorrir que eu, o facto é que sempre que precisava do teu sorriso, tu e ele estavam lá. Mesmo quando era só na minha mente.
Este mês consegui uns biscates e levo uma pequena surpresa para ti meu amor.
Mal posso esperar por Sexta-feira.
Para sempre teu.
16 De Janeiro de 2013
Eu compreendo o que tu sentes amor, o meu peito também arde de saudade.
Anseia por sexta-feira como um drogado, a sua droga.
Fico feliz por saber que apareceram alguns extras para te ocupar a cabeça.
Sabes que não quero que me dês nada. A tua presença para mim já é mais do que suficiente.
E só de pensar que desta vez nos vamos puder tocar…
“O meu corpo já chama por ti.
Os meus seios pedem o teu toque
A minha boca já grita o teu nome.
O mundo será pequeno para nós nesse dia.
Porque nada é mais forte que o nosso amor”
Encontremos-nos então junto à padaria onde esperava pelo teu irmão para voltares.
As visitas, sei que eram sempre curtas para aquilo que nós sentíamos, mas a espera que enfrentavas para voltar era longa por demais.
Aquelas duas horas voavam como dois minutos e meio. E tudo o que fazíamos nos últimos trinta segundos era chorar… Chorar por a próxima visita só poder ser daí a um mês.
Não me respondas a esta carta, responde-me antes com versos cantados…
No dia em que me vieres ver, para que por todos possam ser escutados.
Para sempre tua
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Capítulo II
19 De Janeiro de 2013.
A tarde de ontem foi fantástica.
Confesso que foi tudo com o que tinha sonhado. És tudo aquilo que sempre sonhei.
Queria que tivesse chegado um ramo enorme de rosas vermelhas para ti, mas só consegui comprar uma.
Foi dada de coração, acredita em mim.
“Pela primeira vez, pude olhar para ti, olhos nos olhos
Sem nenhum vidro, a nos separar
Pude finalmente sentir o teu respirar.
Beijei finalmente os lábios com que sempre em sonhos sonhei
E pude ir um pouco mais além.”
Gostei muito do teu cantinho que para sempre guardará imagens de nós dois…
Foi ali que nos amamos a primeira vez, é ali que morreremos quando chegar a nossa vez.
Sonhei contigo nos meus braços toda a noite
E acordei com dores nas costas,
Quando vi os olhos tudo ficou mais escuro
Por me lembrar que era apenas eu a me recordar.
Nessa tarde
Devoramo-nos quais animais esfomeados
Só não rasgamos as roupas,
Porque não somos afortunados.
Foram horas de prazer
De uma cavalgada que vou fazer por merecer.
Sinto-me hoje um novo homem
Capaz de o mundo, do avesso virar
Vou à guerra, por ti amor,
Porque por ti minha dor, não há medicamento que me vença.
Acabou-se-me o papel alisado e nestas linhas vou-me apenas repetir
Amo-te a cada novo amanhecer.
Para Sempre Teu
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