Pesa-me um verbo, tenho sobrancelhas circunflexas, quase caídas
Um «carocha» assassino rebenta quando estou para te dizer que te amo
Uma flor de chumbo é tão leve que o teu sorriso mais parece uma goma
Faço-te bolas como filhos
Salto ao eixo com essa estranha malícia que trazes no beijo
E se me perguntas porque cardo as sombras à procura da luz
Respondo-te por anagramas
Por melancólicas noites em que subtraímos gatos por cães
E os telhados enfadonhos cantam espécies de fados às luas
Pesa-me um modo e um advérbio
Pesas-me tu sem saberes sequer que te peso
As unhas dos dias
São catedrais que deixamos crescer
Até rasgarmos o sol ao meio
A dor em três quartos de fel, néon de hotel, tédio
Pesa-me este cacto na boca que se chama canto
Pesam-me os que me pesam como abóboras tontas
Os seios dos dias, as crianças sem pais, as ervas daninhas no leite
Dói-me uma dor, que de tão forte ri
A-final de contas