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Apenas uma narrativa

 
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Aquela mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.

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O dia chegou sorrindo
Afinal, é verão!
As nuvens com bochechas
cheias e risonhas têm
formas de cãezinhos correndo.
As árvores balançam em balés
ritmados pelo vento... e os passarinhos
fazem coros voando suas coreografias.
Não muito longe tem um bosque que ninguém
pode tocar - diz uma tabuleta
com letras brancas...
Passa uma moça com um saco de pão
e logo atrás vem um ancião de bengala
Passa um, passa dois, passa três...
passam vários carros zangados
com ciclistas, que cortam a rua, afobados.
Buzinas, freios, pneus cantando...
Impropérios, xingamentos...
Tem uma música escapando da casa em frente
e uma senhora mãe passa acabrunhada
com um filho em cada mão e
atrás outro agarra-lhe a saia...
Tem uma creche numa esquina
e uma escola no outro canto tocando
a campainha. Estudantes passam rápidos,
tagarelando, apesar do peso nas costas...
Ainda tem um cheiro de café fresco no ar
e o barulho de alguém varrendo calçada...
Tem um cão mais em frente deitado
em uma fatia de chão sem asfalto...
com três abutres bicando-lhe a cauda...
as costelas - aquilo ali vai feder...
Não fedeu!
O cão se levanta quando tentam beliscar-lhe
os olhos, abana o rabo e anda mancando
até o outro lado da rua e deita novamente,
como se morto estivesse.
As rapinas estão tristes...
Pensavam-no pronto para a consumação,
olham de cabeças tortas para a ex-refeição
e alçam repentinos voos incertos.

Mais um dia de verão se abriu,
tão sistemático, tão normal...
Se não fosse por aquele arbusto, no
pé de um muro, insistindo em florir.
 
Autor
MarySSantos
 
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