O cão e o larápio. A dor é como a mordedura do primeiro: sim, reverberando o estertor do seu lacerar o tempo inteiro. No segundo, intermitente e furtiva, justamente porque de tempos em tempos faz ressoar a lembrança da têmpera da ferida. Sem sombra de dúvidas, esta é a mais pungentemente corrosiva pois foge e não comunica sua vinda! O cão e o gatuno. Tempestade, monção e ciclone: daninhos todos tais fenômenos. Sejam eles na forma da porrada da socapa da brisa... Sejam eles o afago áspero da lhaneza ígnea... Sejam eles a encarnação da faca cortante que é o amargor da decepção com a sua gente querida! O cão e o ladrão. Ouço o bramar do martelo da mordida penetrar fundo nos tímpanos do meu coração. Eu sei ser você, dor minha, o vácuo a esgarçar balsamicamente minha alegria. Eu sei ser você, dor minha, a senhora de cada instante, minuto, hora da minha vivência desinxabida. Eis você, dor minha, a bruma da solidão a me envolver masoquisticamente em sua teia gasosa de fluidos misantrópicos que deitam na dinâmica e erosiva vastidão etérea de todos os enigmáticos dias. Eis como é você, onipresente ausência diária. Eis como é você, macabro e tenro tormento diário. Eis como é a minha agonia, suponho, vitalícia. Eis A DOR MINHA, tsunami de tristeza qual flui e reflui continuamente no esteio das infinitas galáxias de meu anonimato!
Ouço os versos falando aos meus olhares, e pressinto uma serepentica busca de sentido, uma angustia que impele em eterna procura, que bonito, leves traços surreais e um sentimento real, mesclando-se em pura poesia....