Histórias engraçadas com amigos! Tenho uma porção delas. Vou lembrar uma aqui.
Minha infância e adolescência foi maravilhosa. Vivia em bando, rodeado de amigos. Cidade pequena, era fácil encontrar todo mundo. Brincávamos na rua do lado da casa da minha avó praticamente todos os dias, mesmo a noite, até altas horas: Pelada, bola queimada, pega-pega, esconde-esconde, pião, bolinhas de gude, pipa... Além de tudo que a imaginação criava.
Vivíamos nos rios nadando, pescando. Nas estradas de terra, a pé ou de bicicleta. Explorando as pequenas matas, que pra nós parecia enorme, atrás de alguma nova cachoeira ou algum ponto de pesca. Caçando passarinhos, armando arapucas. Andando a cavalo, roubando fruta (fruta roubada é sempre mais gostosa), aprontando algumas artes... Pena minhas filhas não poderem ter a mesma liberdade. É até engraçado, elas adoram ir pra escola, enquanto eu vivia tentando escapar da minha. Também, coitadas, não tem muitas opções numa cidade tão grande, pelo menos não sem depender da gente (apenas por comparação, só o bairro onde moro aqui em Uberlândia deve dar uns três ou quatro Bálsamo)
Numa dessas, lembro uma vez que eu e meu amigo, Toninho Japonês (adoro esse cara), resolvemos pegar escondido a tarrafa do pai dele pra pescar. Tínhamos ido pouco tempo antes pescar com o pai dele, Sr. Kunihiro, que usou a tarrafa pra pegar alguns peixes pequenos pra usar como isca. Sr. Kunihiro tinha muita experiência. O local, na ocasião, também ajudava, tinha muitos desses peixes. Com poucas tarrafadas ele encheu um balde. Encheu também nossos olhos, ficamos admirados, parecia fácil jogar a tarrafa. Não deu noutra, naquele dia a idéia foi plantada: cedo ou tarde, a gente ia dar uma "sumidinha" com a tarrafa dele.
Colocamos a tarrafa num saco e pegamos a estrada a pé. Era uns sete quilômetros de pernada até o rio, mas isso não era nada pra gente naquela época (hoje eu morreria no caminho, talvez até ia, mas não voltava não), mesmo com o incomodo de levar a tarrafa. Pelo caminho íamos sonhando, imaginando a quantidade enorme de peixe que íamos pegar, chegamos cogitar que seria difícil até trazer. Quando chegamos no rio, o Toninho tirou a tarrafa do saco e foi logo ajeitando ela pro primeiro lance, parecia que sabia o que estava fazendo, botei a maior fé. Colocou a tarrafa atrás das costas, segurando com a mão esquerda a corda por sobre o ombro direito, abraçando o pescoço, e com a mão direita atrás segurando embaixo a corrente da borda da tarrafa. Imitou certinho o pai dele, até girou, mexendo só a cintura, duas ou três vezes antes de arremessar. Então jogou... Que decepção! Não tinha como a tarrafa ter caído mais fechada, foi como ter jogado uma pedra na água. Daquele jeito, só se matasse algum peixe na pancada. Se tinha algum peixe ali, depois daquilo, já era. Tentamos várias vezes, mas nada...
Sem nenhum peixe, pegamos e estrada de volta, mas o melhor ainda estava por vir. Já perto de Bálsamo, vimos os ciganos tentando pegar um dos seus cavalos, que eles criavam meio que solto a beira da estrada. Acabamos ajudando eles. Como eles estavam em dois numa moto, perguntaram se a gente não queria ir com o cavalo. Imagina se não!
O Toninho foi logo dizendo que eu ia na garupa, e já foi tomando as rédeas. Não tinha arreio não, era em pelo mesmo. Ajeitou pra pular no cavalo, de novo na maior pose, parecia que sabia o que estava fazendo, botei a maior fé. Então pulou... Que decepção! Mal chegou a relar no cavalo, passou por cima e caiu de costas no chão do outro lado, mas foi um salto ninja, coisa de japonês. O pior foi a desculpa do Toninho, dizendo que estava acostumado com cavalos maiores.
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