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Aquela mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.
tinha tantos cajueiros
com frutos...
tinha assado de castanhas
nos quintais
tinha um cheiro marrom de inverno
em galhos de outono, tinha cheiro
de primavera nas relvas
de verão...
tinha cadernos com fitas
borboletas no peito
tinha uma flor no grampo
e beija-flor pairando cabelos...
tinha versinhos de amor
tinha céu lilás com rosa
dentro dos olhos.
tinha rosa lilás na boca,
tinha riso, tinha brilho,
tinha cantiga no falar.
tinha algodão doce
tinha um cravo no rosto
tinha uma bala de menta
rolando na língua
tinha uma lua no leste
surgindo míngua...
tinha folhas no chão
e flores na mão
tinha no céu
bochechas rubras de carmim,
nuvem envergonhada
com a carícia d’um raio
sumindo...
tinha um fim de tarde
naqueles passos
naquele olhar...
tinha tudo assim
tinha tudo sim
naquele outro corpo
irradiando calor
tinha sim e
era tudo enfim
pressupostos
pro amor.