Que a festa comece e a miséria se divirta
Uma mesa feita de pano estendido chão
Quase cheia de nada mas nela há a vida
Daquilo que não temos mas há o coração.
Que sejam pretos, Árabes ou Europeus
O barco é o mesmo sem porto de abrigo
Sem bússola nem remos, a vida é um ilhéu
Deserto de felicidade, parece ser castigo.
À volta desse pano branco, pobre mesa
Os pais e os filhos pouco têm para comer
Chega o fim do ano só tendo a certeza
Que outro vai chegar e nada lhes vai trazer.
Procurando um osso o amigo sempre fiel
Um cão que os ama os protege, não diz nada
Magro como os donos, com o destino cruel
Diria que dormiu em cima de chapa ondulada.
Chegou a meia noite, e as doze badaladas
Ouviram-se os foguetes e o fogo de artificio
Nesses pobres chegaram lágrimas cruzadas
De desespero e de uma vida de sacrifício
Imploram aos Deuses que a vida lhes dê prazer
Justiça divina que não sabem se podem acreditar
Novo Ano vai começar na incerteza do viver
Nada pedem, mas têm direito de ver o Sol brilhar
A. DA FONSECA