Eu vou facilitar a morte do desejo de amar os teus olhos que são eternos.
Não existe mais nada pior para mim do que a mágoa de me veres cair de exaustão, e nada fazeres para impedir a queda.
Ainda assim, a tua forte presença é sentida pelos meus poros, como uma borboleta atraída pela luz numa noite escura e fria.
E eu sinto que em tudo o que faço enalteço uma parte de ti. Nos meus gestos com os teus gestos, e na minha voz com a tua voz.
Jamais te quereria possuir, porque dentro de tudo que é o meu ser, acabaria de forma drástica.
Só pedia para que surgisses perante mim como a fé nos desesperados, e só por si basta o "acreditar" e vencer com coragem!
Só queria levar uma pequeníssima gota comigo, nesta imensidão de oceano amaldiçoado que ficou tingida no meu ser como uma nódoa do passado.
Eu vou facilitar a morte do meu eterno desejo, onde tu continuarás e encostarás a tua face numa outra.
Os teus dedos meigos irão de novo entrelaçar noutros dedos e tu renascerás...
Poderás um dia saber quiçá, que quem te chorou e acolheu no silêncio de uma lágrima fui eu.
Porque eu encostei a minha face na face dessas noites, e conseguia ouvir-te falar comigo.
Porque meus dedos entrelaçaram-se sozinhos, agarrando esse ar que pairava à minha volta.
Eu trouxe comigo inevitavelmente o rosto gravado do teu silêncio e do teu abandono desonesto.
Ficarei só como os velhos navios naufragados em baías desconhecidas.
Mas eu vou-te possuir talvez como nunca o fizeram, porque vou partir.
E que todas as minhas piores lamentações sobre oceano, dos navios, da noite, das borboletas, do ar que respiro... sejam as do teu ser, da tua voz ausente, a tua voz que ainda barulhenta, serena irá permanecer.
Nuno Nebel