Queres ir aos pássaros? - perguntava-me o meu amigo Carlos, de fisga em punho. E eu, que pouco maior era do que os pássaros e ainda para mais, tinha uma pena que não se explica de tudo o que era bicho, respondia-lhe sempre que não (nem sei porque insistia!) - Olha que esta é nova... - retorquiu ele daquela vez, elevando o objecto à altura dos meus olhos míopes, para que me certificasse como devia de ser, daquilo que me dizia. De facto, aquele Y feito de um galho de oliveira, tinha cara de ter sido descascado de fresco. E o bocado de câmara de ar com aquele reforço encarnado ao meio, davam-me igualmente ares de serem novinhos em folha e que até eram bem capazes de acertar nalguma asa de melro menos atento que por ali andasse à cata de lagartas nas couves, lá isso eram. De modo que lhe disse - deixa lá os passaritos em paz - numa tentativa vã de o fazer mudar de ideias.
De maneira que, encolheu os ombros e lá seguiu saltando o muro do quintal do "policia", todo contente de fisga na mão e assobio na boca, a entoar uma moda qualquer que agora me não recordo qual. Na volta, trazia os olhos no chão, as mãos enterradas nos bolsos e a fisga dependurada no de trás. Do assobio, nem um pio...
Está visto que o jantar não foi de melro nem de pardal. Foi frango guisado que é bem bom. Soube-o no dia seguinte, por acaso, quando a minha mãe se encontrou com a sua no lavadouro e falaram daquilo que tinham feito para a ceia do dia anterior. Conversas de mulheres feitas de ocasião, quando a ocasião se proporciona. O que foi o caso!