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Uma carta de amor tão ridícula como outra qualquer

 
 
Algures de madrugada, numa data improvável

Meu amor
A recordação do teu olhar faz-me lembrar o bailado das borboletas. Ansiosos são os vôos que se desprendem dos teus olhos...

Ainda sinto no ar o teu perfume, que deixaste espalhado pelo quarto, quando saíste de madrugada, a coberto da escuridão da noite cúmplice, sem luar.
Deixaste-me embriagada e meio adormecida, abraçada ao que restou do calor das tuas mãos suaves, que, horas antes, me percorreram o corpo palpitante de desejo e me saciaram a fome de paixão que me atormentava o corpo e a alma, deixando-me completamente perdida da minha razão...
O teu sabor adocicado, impregnou-me a pele e o sentir, entranhando-se em mim, por cada um dos meus poros transpirados e salgados, anunciando a avidez urgente do tanto que me oferecerias sem eu nada te pedir com palavras. Leste-o nos meus olhos, lascivos... sem demora, debruçaste-te sobre mim e roçaste-me levemente, com os teus lábios cálidos, que dançaram sobre os meus, movidos pelo embalo de uma música suave que se ouvia em fundo. As bocas entreabertas deixaram que as línguas se tocassem e se enrolassem num beijo urgente e interminável.

Se eu soubesse que gostavas, escrevia-te um poema...
Despir-me-ia de preconceitos e ousaria mostrar-me nua, para deleite dos teus olhos. Procuraria as palavras certas, as mais doces e belas que encontrasse e vestir-me-ia com elas, sob a forma de um fino véu, onde sobressaísse o rendilhado dos meus sentimentos. Teria pano de sobra, onde pregaria botões de anseios e flores de desejos.
Numa fita de seda azul, bordaria um punhado de beijos, que te ofereceria à chegada e à despedida.
Se eu soubesse que gostavas, inventava uma poesia...
Esperaria que o sol se escondesse e visitar-te-ia de noite, com a cumplicidade da lua.

Em cada hora do tempo errante, em que os ponteiros do relógio entorpecido pela dolência dos dias, rodam no sentido contrário da vida, marcando o tempo que não volta, invento-te.
Invento-te no meu imaginário de sonho e desvelo, onde se projectam imagens irreais numa tela de fantasia que vou moldando a meu belo prazer. E faço com que voltes sempre ao meu encontro, em cada desejo que me invade a mente na dormência da inquietante e insuportável ausência de ti. E então, vejo-te chegar ao longe, com um esboço de sorriso preso ao brilho do meu olhar.
Damos as mãos e corremos pelo verde da minha esperança, saltando os muros da nossa distancia e escalando as fragas das minhas incertezas, rumo ao paraíso que inventei no mesmo instante em que te perdi.
O que nos vale, é que ainda me restam as lembranças do bailado das borboletas nos teus olhos...

Desta que te (re)inventa porque te quer, com amor!


Cleo (Lurdes Dias)


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/01/2013 23:05  Atualizado: 20/01/2013 23:05
 Re: Uma carta de amor ridícula como outra qualquer
Simplesmente deslumbrante Cleo! Adorei ler!

Vou guardar, se me permite...

Parabéns!

Felisbela


Enviado por Tópico
GabrielaSal
Publicado: 21/01/2013 00:26  Atualizado: 21/01/2013 00:26
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Usuário desde: 19/01/2013
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Mensagens: 790
 Re: Uma carta de amor tão ridícula como outra qualquer
sua carta guardou detalhes, em uma
deslumbrante fala poética!

.•´¸.•*´¨) ¸.•*¨)
(¸.•´ (¸.•`*´ Gabi