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Gê Muniz
O QUE OS TEXTOS ME PEDEM
Não me interponho. Simplesmente transcrevo o que os textos me pedem. Frases que eventos internos sopram-me aos ouvidos. Não... Não peço para os ditos cujos começarem, mas, como livres alentos, iniciam-se sem, em nada, me questionarem. Jamais sei como terminarão e eles, teimosos, também impõem-se surdos aos meus protestos e, assim, depois findam. É mais que certo: eles não representam o que penso. Ao contrário, têm constritas convicções próprias que em nada requerem meu parecer. Surpreendo-me um tanto com eles. Divirto-me à beça com os estranhos e absurdos conceitos que eles sábia ou tolamente empreendem. Agem tosca e brutalmente, independentes daquilo que emana da ordem oficial do que considero meu ser. Pelo jeito, cá existem tantos outros soltos, desgarrados, exibidos, a tentarem mostrar-me o quanto a mim são melhores, diferentes ou contrários... Querem desafiar-me e eu lá, bem estabanado e somente a tentar, debalde, controlar seus ânimos. Sinto um receio justificável em declarar-me autor de algo, pois não sustento de pé o que o redigido expressa ao papel tombado naquelas letras bárbaras, e, convenhamos, nem tenho a autoridade moral para fazê-lo... Eles são as minhas eminências pardas. Eu, o ser total e absurdamente perplexo e resignado por ter-lhes admitido a expressão pelos pobres e inefáveis dedos das minhas mãos.
(Gê Muniz)