Soube de algumas palavras
De velhas memórias
Contavam ao som de guitarras
As mais incríveis histórias.
Diziam as bocas do povo
Aconteceu assim:
Seguia o dia longo e cansado
Pelo relógio de corda
Quando às badaladas desse tempo pesado
A noite finalmente acorda
É então, nessa hora incerta
Quando o sono por todos chama
Que o Zé da Mula desperta
E num repente, fica pronto e alerta
Dando um salto para fora da cama
Soube ainda, por janelas alcoviteiras
Que roubou no passado
Mil rosários às freiras
A mando do diabo
Vendia-os depois nas feiras
Por meia dúzia de trocados
Prá batota às sextas-feiras
Entre vinho, mulheres e fados
Encontrá-lo, era no tasco
Ao balcão, corpo franzino
Boémio, bêbado como um cacho
Desfiando o seu destino
Teve, o Zé da Mula desordeiro
Um final trágico e esperado
Certa vez, ao não pagar ao taberneiro
Foi por este assassinado
Diz quem viu, que foi verdade
A luta de facas sem igual
Por meia hora de ansiedade
Ditou o álcool, a vontade
E um obituário no jornal.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.