Poemas : 

Romaria transcendental ou Sacra Femininum

 
.

Quem é a santa?
Quem é a santa que
sempre a divindade materna
mãe eterna feminina?
A Consolação é
mesmo que a Esperança?
Faz sentido serem
a mesma.
Mas a reflexão,
A pergunta
é sobre
o triângulo?
Não, não é sobre o triângulo.
É sobre a cruz?
Não, não é sobre a cruz.
É sobre a resposta
da pergunta.
Se penso
na resposta da pergunta
como epifania
ou como a fonologia
da compreensão de um grande
segredo.
Um estalo,
insight,
estrela,
Eu...
(suspiro)
A resposta da pergunta
é a própria causa da pergunta.
Eu já sabia,
quando peguei a flor amarela
que ela
Consolata
Consolação
Esperança
Santa Mãe
Santíssima
Ave
Ave
Ave Maria que voa raso,
Ave
Ave Maria das cruzes vermelhas
nas vias dessa cidade plana.
Cruzes vermelhas
e igrejas em pirâmides,
sacramentos,
triângulos
para cima,
triângulos
para baixo.
Ângulos reto
da simbologia
que o olho cru não vê.
Cruzes na tabacaria,
fumaça.
Tudo pode não passar
de neurotransmissores
e latidos de cachorros.
Latidos de cachorros
ouvidos
pelos neurotransmissores,
de neurotransmissores caninos
Em Au au au au au au au au au
alcalinos neurotransmissores.
Eu transmito raiva
aos cachorros
que invadem a linha curva
desse pensamento-poema.
Eu
Eu eu eu eu eu eu eu
Tive uma hemorragia de ego.
Uma egorragia.
Essa legorragia é a egorragia
porque eu fiz
eu escrevo
eu falo
eu digo
eu conto os passos
entre as cruzes vermelhas
dessa aldeia de novos homens
do centro da terra.
Lar
das crianças que nascem enquanto digo
Eu
Eu eu eu eu
Eu vi a vovó
Eu vi o Ivo
Eu vi a uva
Eu vi vovó
na chuva,
louca,
dançando com um vestido branco,
pulando,
engraçadinha.
Numa relva urbana de barro
de periferia,
Eu vi a vovó,
Eu vi a vulva da vovó,
Eu vi a vulva da vovó em chamas
gritando:
Ê boaideiro!
Ê boiadeiro!
Uma noite dessas
Eu vi tanta coisa...
Algumas delas eu já esqueci
outras,
eu guardo
porque penso que quero guardá-las,
lembrá-las.
Tê-las como porcelana
na telha
de memória.
Ficar olhando-as
estante de
instantes.
Eu ouço as crianças gritando
querendo sair do Lar
da criança.
Eu ando pela consoante ímpar
Eu ando pela consoante par.

.

 
Autor
thiagodebarros
 
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Enviado por Tópico
Felipe Mendonça
Publicado: 14/01/2013 19:37  Atualizado: 14/01/2013 19:37
Usuário desde: 01/12/2011
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 541
 Re: Romaria transcendental ou Sacra Femininum
Outro excelente. Parabéns. Grande abraço.




Enviado por Tópico
SERÁaBENEDITA
Publicado: 15/01/2013 12:01  Atualizado: 15/01/2013 12:01
Muito Participativo
Usuário desde: 02/01/2012
Localidade:
Mensagens: 73
 Re: Romaria transcendental ou Sacra Femininum
"Mas a reflexão,
A pergunta
é sobre
o triângulo?
Não, não é sobre o triângulo.
É sobre a cruz?
Não, não é sobre a cruz.
É sobre a resposta
da pergunta.
Se penso
na resposta da pergunta
como epifania
ou como a fonologia
da compreensão de um grande
segredo.
Um estalo,
insight,
estrela,
Eu...
(suspiro)
A resposta da pergunta"

Maurice Blanchot disse uma frase genial: A resposta é a desgraça da pergunta. Em poesia não há respostas. Não deve haver. Responder mata por enforcamento. Responder aleija , sequela a santidade da palavra. Responder é a morte.

Genial, sempre!


Bisous,

Serabene.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/01/2013 12:52  Atualizado: 15/01/2013 12:52
 Re: Romaria transcendental ou Sacra Femininum
Excelente texto!

Essa “romaria transcendental” começou , quando aproximadamente 12 bilhões de neurônios ( dos 100 trilhões iniciais)amadureceram e dançaram todas as sinapses, possíveis...

- Penso e questiono, logo existo - disse o ser pensante.

- Mas, será verdade? Existimos ou pensamos que existimos? Afinal , podemos imaginar e fazer conexões com tudo que não existe... – disse o ser questionador.

- Então, vamos orar... transcender.


Gostei muito e viajei um pouquinho, até me desviei neste movimento,rs.

Parabéns e obrigada por partilhar!

Um abraço