Brincando
Estou pensando num homem curioso.
Que me parecia, inofensivo, casto.
Tem dois amores. Um sereno, terno.
O outro, dá-lhe cabo do canastro.
A sua cara parece á primeira vista.
A de um tipo, que não parte um prato.
Tem ares de seminarista aposentado.
Olhos perspicazes e dentinhos de rato.
De manhã, um pouco serumbático,
Ar peregrino, aéreo e bem penteado.
Geralmente um dos amores fica na cama.
Outro o espera com olheiras de cansaço.
Assim, começa outro dia de odisseia,
Inventando maneiras e processos.
De tornar aquela óptica engenhosa.
Em curvas que não causem embaraços.
Pesquisa, bisbilhota, sonha e vê sereias.
E aqueles neurónios vão matraqueando.
Et pour non chauffer la chaise, eleva-se.
E histórias hilariantes vai arquitectando.
Ardiloso, matreiro, a voz bem colocada.
Sorriso malicioso, palavras bréjeiras.
Que a latinada não lhe era adequada.
Nem sonhos com anjos, padres ou freiras.
De máquina fotográfica na mão, é vê-lo.
Bonacheirão nariz franzido, olhos ás gelhas.
Fotografando in extremis e conformado.
Em vez de caras giras, tantas caras velhas!
Mas sempre prazenteiro, prestativo
Desenrasca os aflitos de qualquer aperto.
Sortudo de um amor não ter ciúmes
Trabalhando para outro, como um preto.
É o jornal, poesias, o ciclo de leitura.
Fotos, filmes, prosas e sei lá que mais!
Pronto a ajudar, fontes e quejandos.
Mas a voz é prodigiosa, nos jograis!
Agora, vou eu trocar lhe as voltas,
Sou observadora, não espirituosa
No computador, também eu fui clicando
E maquinando esta história, maliciosa.
Vólena