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Pequena flor vermelha de sangue

 



Eu sou emerso dos precipícios eternos
sou irmão das tempestades, olhos chamejantes,
sou um visionário das estrelas cintilantes.
Meu refúgio está em um elevado rochedo,
na mais alta das montanhas distantes
os picos beijando as nuvens sem medo,
lá tenho guarida, meu vulto se enfurna,
protegido em meio à escuridão noturna.

Tenho meu asilo na montanha alta,
onde qualquer um mortal sente asco,
e me orgulho disso, muito me exalta
reinar sobre o íngreme penhasco.
Mas quando das alturas a noite descer,
cobrindo toda a terra com seu negro manto,
no penhasco agora, altivo me levanto
só aguardado o momento de aparecer.

Sei que os mortais tem alma atemorizada ,
eles mantém sempre uma chama acesa,
e consideram que a espada guardada
ao alcance da mão será implacável defesa.
Noites sem estrelas, as montanhas bordejo,
num sobrevoo sobre o abismo tão escuro
posso avistar mortais fugirem sem pejo,
as faces lívidas em busca de refugio seguro.


Uma noite, ao longe, ruídos de passos ouvi,
e o sob a luz da lua alguns mortais eu vi.
Um deles trazia uma lira e a tangia em tom vivo,
outro percutia um tambor, de modo exaustivo.
e uma terceira figura balançava guizos na mão.
Queriam o meu silêncio perturbar, e então
balançavam os guizos, batiam forte no tambor
e dançavam com passos engraçados, com furor .

Agora eles riam e pulavam, dançando na colina
mostravam os dentes, e riam alegremente ,
cantavam, dançavam e riam, entre a neblina,
aos lábios levavam uma bilha de aguardente,
como se estivessem saindo de um festival.
Acima das pedras pontiagudas, meu pedestal,
eu tentava responder perguntas incoerentes
que confundiam, deixavam dúvidas crescentes.

- Por que eles cantam e riem, então,
parecem feliz e estão despreocupados,
assim tão perto da morte que estão,
ignoram o triste destino pobres coitados?
- Não sabem que antes de raiar o sol,
antes que soem os sinos dos campanários
das estreitas veredas não verão o arrebol,
terão as mãos crispadas nos vãos relicários?

Continuava a ouvir a musica e ver as danças,
então desci do penhasco, célere, sem ruído,
num relance acerquei-me do grupo distraído,
nem me perceberam naquelas vizinhanças.
Um deles trazia uma espada tão reluzente,
mas não reagiu. Permaneceu como os demais.
Ficou inerte, o corpo hirto hesitava tremente,
ante a cruel visão das minhas faces imortais.

Num assomo de imensa fúria, com furor
quebrei as cordas da lira e sem avisos,
arremessei para longe o tambor
e esmigalhei com as mãos os guizos.
Cordas quebradas não podem tocar,
sem tambor, sem guizos a tilintar,
achei que os faria chorar, por certo,
como crianças vendo um túmulo aberto .

Um deles aproximou-se, olhou para mim,
-tenho certeza que pode me ver, viu sim,
pois somente nas brumas é que sou visível.
Ele, coitado, não trazia com ele uma espada
e também nem sabia do meu poder terrível,
mas sorriu, e ofertou uma flor alva quarada.
Foi então que tudo voltou a ser silencioso,
como o era, desde o principio tão glorioso.

Com certeiros golpes foram estraçalhados
para sempre foram aqueles sons abafados ,
tingindo então de rubro matiz a alva florzinha,
que do sangue derramado se cobriu todinha.


 
Autor
ArysGaiovani
 
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Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 14/01/2013 13:56  Atualizado: 14/01/2013 13:56
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Mensagens: 10200
 Re: Pequena flor vermelha de sangue
Bom dia Ary, seus versos narram um personagem bucólico, e dotado de nuances que o diferencia da massa humana.
Parabéns pelo seu instigante poema, um grande abraço, MJ..