Isto de dormir sempre para o mesmo lado, faz-me tombar quase sempre para esse mesmo lado. Um jeito de dormir estranho que me não deixa repousar, como se a minha cabeça fosse um abrigo de todos os pensamentos obscuros, sempre às voltas e reviravoltas numa cama desfeita por todas as voltas que meu corpo dá.
Esforço-me para que meu corpo se mantenha em repouso, mas, acordo com marcas vincadas nos olhos. Quase uma cegueira entrefolhos que surge pela manhã, quando me levanto, abro a torneira do duche e deixo a água escorrer como fios cristalizados pelos buracos do chuveiro. Ela escorre enquanto eu tento ainda encontrar algum sonho que tenha ficado colado nos lençóis. Procuro uma dobra do lençol, ainda em estado perfeito, e arremato-a assim só com dois dedos esticados, para que não esqueça que logo mais, há ainda muito para alinhavar quando o meu corpo encontrar o sonho ou o que resta dele, à espera da próxima noite.
Não adianta fechar os olhos à noite, só porque se sabe que chega sempre a manhã. Sei, que se não houver uma pontinha da noite em cada manhã nos meus olhos, não haverá nem mãos nem dedos para encontrar algum fio de luz, que ficou para velar o sono da noite.
Dolores Marques – Jan 2013