CAIS PARTICULARMENTE IMPERMEÁVEL
Quero me ancorar no porto
Onde a maioria de nós ancora:
O seu espaço é altruísta, aberto
A qualquer um que nele
Queira vitaliciamente fazer o seu réquiem.
Réquiem qual embarca no veleiro do sabor da brisa
Dos idílios vividos: sim, na brama da saciedade, adormecidos.
Mas o problema que inquinodoa tal perspectiva
Sou eu: mar de malogros, cobardias e torturas.
Sou o meu próprio obstáculo: basta dizer que,
Quando um ânimo leviano me ataca, aos afagos,
A sombra da irresolução logo em mim paira inexorável.
Ah, o amargo das tormentas dum homem-barco
Vivendo no trapiche melancólico do naufrágio-fracasso!
Eu, enleado á bruma dos meus medos,
Fico a paralisar as ações da minha vontade,
Que sempre fica a querer rumar,
O quão mais rápido possa,
Para o porto-comuna da máxima glória.
Ah, morar eternamente no tornado benfazejo do éden,
Onde chegam as almas teimosas!
Contudo, a inação, com seu riso sardônico, me suplanta.
As chagas cicatrizadas reabrem: novamente afloram, inflamam.
Domam-me, porfim, outra vez, os demônios de outrora.
Ah, ode que ecoa nas sáfaras portuárias da minha memória.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
gavetadoautor@uol.com.br
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