Corta fundo e sangra o som de um violino emocionado
Procuro no silêncio das estrelas sem fé e sem oração
Encontro nas estrelas um amor que nunca pensei
E meus medos confessam meus segredos, todos meus
Num copo de vinho não encontro palavras e vazio o vento
Junta tudo que foi nosso e rasga em pequenos pedaços
E em pequenos pedaços você me chora por inteira, sem rumo
O sol amanhã não veio, inventaram a luz e não inventei outro amor
Um vento forte me acerta, desmanchando meus sonhos e me perco onde estou
Navio sem porto e ao som de um violino louco sei onde você está em outro lugar
Onde a vida continua a cada dia mais dividida e sem tempo pra voltar em nosso porto
E beijo o vento que beija você num momento de loucura, como sãos loucos os amores
Anjo caído sem asas à beira da estrada sem nada pra falar, amores repetidos e dores
Seguimos voltando sonhando os mesmos sonhos pelos mesmos caminhos separados
Quando nasci nunca pequeno fui, quando amei não acreditei, quando perdi chorei e amei
Ouço o violino louco que em suas notas respigam pingos de uma saudade amiga, de paz
Como pingos de uma chuva fina, desci seu corpo e me encontrei em seu corpo, secaram todos
Sem sossego cantei cantigas antigas, inquietei vizinhos, procurando, esperando, não encontrei
Quando todas as luzes se apagarem e o sol não voltar, vai brilhar o som de um violino louco
Carrego na imaginação, embalando a esperança, amor sem explicação, notas desse tempo.
José Veríssimo