CRIANÇA SÓ
Ao frio, ao vento, à chuva,
Vai a criança rota e suja.
Pés descalços, gelados, doridos,
Pisando o chão da rua com gemidos,
Avança entre os galhos aguçados
E chorando a sorte dos desgraçados,
Caminha sempre no além...
O cabelo sujo, despenteado,
As mãos nuas, mal lavadas...
Os olhos negros são sinceros
De lágrimas puras e prateadas...
Sangrando o coração de dor somente,
Caminha e sente que não é nada,
Mas sabe que como todos, também é gente!
Disperso, meu Deus, porquê?, da multidão!
Não vêm que a criança tem coração,
Que chora, que se vê desamparada
De um carinho, de amor, de afeição?
Algures sempre tem procurado,
Vendo apenas miséria e solidão,
Sem nunca o amor haver encontrado!
Choro, meu Deus, mas choro em vão!
Pois sei que não me escuta esta multidão,
Que estas linhas lê, mas sem sentir,
Que um dia as rosas viu florir,
Que foi pequena, que teve infância.
Porque não vêm no rostinho o olhar pedir!?
Porque resistem ao amor de uma criança!?
Manuela Matos
(Do Livro Pedaços de Lua
Escrever é uma terapia...